Não é novidade que a pandemia e o isolamento social têm afetado todos nós. No entanto, um levantamento realizado na província chinesa de Xianxim revelou os efeitos imediatos desse momento na vida das crianças. Os pesquisadores observaram que 36% delas criaram uma dependência excessiva dos pais. Cerca de 32% mostraram desatenção; 29% preocupação; 21% problemas de sono; 18% falta de apetite; 14% pesadelos e 13% desconforto e agitação.
Segundo o neurologista infantil, Clay Brites, as crianças ainda são imaturas para entender o que está acontecendo. “Sendo assim, elas tendem a ficar inseguras e com medo, uma vez que podem achar que isso não vai mudar e ficaremos nessa situação para sempre”.
O especialista alerta que ambientes negativos podem piorar ainda mais as consequências do isolamento. “Um local onde existe separação conjugal ou em que os pais sejam ansiosos, irritados, depressivos e apresentem problemas de comportamento pode impactar muito no desenvolvimento da criança”.
Outro fator de alerta diz respeito à privação da interação social. “Elas não têm mais o contato com os amigos e a rotina escolar como antes. Isso pode fazer com que desenvolvam sintomas de ansiedade, insegurança excessiva e até sintomas depressivos”.
Isolamento social e os bebês
Os bebês também podem ser prejudicados, porque muitos não conviveram com ninguém além dos pais desde que a pandemia começou. Muitos nasceram e já foram isolados. “Como consequência disso, podem estranhar outras pessoas, porém o mais preocupante é que essa privação pode gerar um atraso no desenvolvimento cognitivo”.
Ele explica que isso acontece pelas poucas atividades estimulantes. “O contato restrito com o mundo exterior e as atividades sociais adaptativas, pode levar a limitações motoras, sociais, afetivas e linguísticas que levarão a um impacto negativo”.
Por isso, ele alerta que os pais não devem cair na armadilha de oferecer tela – TV, celular e tablets – para distrair os pequenos. “Os bebês expostos a isso podem desenvolver déficits ou regressões no seu desenvolvimento linguístico social. Muitos apresentam sinais que podem, inclusive, colocá-los no espectro autista”.
Para tentar driblar tudo isso, os pais devem reservar um tempo para brincar com os filhos. É o que tem feito a personal trainer Patrícia Antunes com Théo, de 1 ano e 2 meses. “Quando o isolamento começou, ele era muito novinho, ou seja, somos apenas eu, meu filho e meu marido. A única vez que o Théo viu pessoas de fora foi em um almoço na casa de uns amigos, onde estávamos nós três e mais dois casais. Ele já tinha 9 meses e quando minha amiga o pegou no colo, ele gritou apavorado e chorou bastante”.
Após esse episódio, Patrícia se perguntou se esse período não estaria prejudicando o filho. “Já havia notado que ele resmunga pouco, ainda não anda, coisas que já vi outros bebês fazendo na idade dele. Sei que cada um tem um tempo, mas preferi informar a pediatra sobre minhas dúvidas e ela me passou uma série de atividades para estimulá-lo”.
Interação é essencial
O neurologista orienta que assim como com os bebês, as crianças mais velhas também devem ficar o mais longe possível da tecnologia. “Troque o tecnológico por coisas analógicas, como brinquedos que elas precisem construir e compartilhar. Isso irá estimular a imaginação e despistar a angústia que é ficar só dentro de casa”.
O especialista frisa que a interação social é essencial para as crianças. “Nem cartão de crédito paga a importância disso. O cérebro infantil, por natureza, é social. Busca, a todo o momento, interação. E isso é fundamental, especialmente para a faixa de 4 a 5 anos, onde a necessidade do apego com o outro é extremamente fundamental”.
Segundo ele, é uma questão orgânica afetiva. “Permite o desenvolvimento cognitivo da capacidade de ser social, o contato visual, a fala, a comunicação, o toque, o desenvolvimento dos sentidos”.
Por fim, quando tudo voltar ao normal, os pais devem explicar para as crianças que, agora, poderão voltar a fazer tudo o que faziam antes. “Isso não terá um impacto muito grande, porque ela já viveu aquela situação no passado. Ela irá retomar aquilo através de sua memória afetiva e visual”, conclui.