Home > Destaques > Brasil registrou 12 ataques em escolas nos últimos 20 anos

Brasil registrou 12 ataques em escolas nos últimos 20 anos

Foto: Pixabay.com

O crescimento de episódios de ataques a tiros em instituições de ensino brasileiras tem levantado o debate sobre o país estar reproduzindo um cenário já visto nos Estados Unidos, de massacres em colégios. Um levantamento do Instituto Sou da Paz, referência em pesquisas e estudos de violência no Brasil, mostra que dos 12 ataques em escolas com armas de fogo e mortes registrados nos últimos 20 anos, três aconteceram em 2022. Para discutir o tema, o Edição do Brasil conversou com a psiquiatra clínica Jaqueline Bifano.

Adolescentes são mais suscetíveis a discursos extremistas?
Sim, porque eles ainda não possuem uma personalidade totalmente formada e suas conexões neuronais ainda não estão estabelecidas. Esses jovens têm a necessidade intensa de estar em um ‘grupo’, querem impor suas ideias à sociedade e se sentirem aceitos, sendo muitas vezes influenciados por discursos radicais.

Qual é o principal perfil desses criminosos?
O perfil desses criminosos são adolescentes brancos, heterossexuais e cisgêneros, que costumam utilizar do bullying para atacar e discriminar minorias sociais, e que, em alguns casos, na família não há uma base que transmita valores morais e éticos para esses jovens.

O que os pais e a escola podem fazer para diminuir esses casos?
A escola e a família são muito importantes para diminuir essa expansão do extremismo entre os jovens, porque são ambientes que transmitem valores de igualdade, solidariedade e inclusão. Esses ensinamentos passados desde criança geram adolescentes conscientes, que respeitam diferentes opiniões e entendem a importância da equidade para todos, independente de sexo, raça ou religião. Além disso, os pais, como passam tempo maior próximos desses indivíduos, podem identificar com mais facilidade um discurso extremista e intervir de forma precoce e efetiva.

Na sua opinião, o maior acesso a armas por civis facilita a ocorrência desses casos?
Sim, pois armas são objetos extremamente perigosos de alto potencial ofensivo e letal, que devem ser usadas com muita cautela, apenas por pessoas preparadas. Ao cair nas mãos desses jovens, que já estão facilmente influenciados por ideais radicais, pode resultar nesses ataques em escolas ou até mesmo em outros espaços públicos. O acesso rápido a esses dispositivos facilita a propagação da violência. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 50 mil assassinatos foram notificados em 2020, um crescimento de 4,8% em relação a 2019. Uma das causas detectadas pelo estudo é o aumento da quantidade de armas de fogo nas mãos de civis.

A internet facilita a identificação desses adolescentes com o extremismo?
Facilita, porque a web é um ambiente onde eles se sentem mais protegidos para espalhar suas ideias e à vontade para praticar o bullying e ataques de ódio. Além da alta presença de fóruns neonazistas que atraem jovens com esse tipo de discurso, sempre os influenciando de forma negativa, até que eles comecem a ter aquele comportamento não só na internet, mas também no seu dia a dia.

Na sua avaliação, jogos de videogame e filmes podem contribuir para que jovens fiquem mais violentos?
Acho que alguns filmes e jogos podem sim contribuir para uma certa cultura da violência. Ao assistirem e/ ou jogarem, eles podem se espelhar e imitar os comportamentos na vida real. Há diversos filmes com personagens bastante violentos, sem nenhum grande motivo aparente, e que muitos desses adolescentes podem achar um exemplo de masculinidade. Mesmo que a intenção do diretor seja fazer uma crítica àquela atitude, os jovens podem interpretar de forma contrária.

Dados do levantamento do Instituto Sou da Paz
Salvador (BA) – 2002
(duas pessoas feridas)

Goiânia (GO) – 2017
(duas pessoas mortas e quatro feridas)

Taiúva (SP) – 2003
(uma pessoa morta e oito feridas)

Medianeira (PR) – 2018
(duas pessoas feridas)

Rio (RJ) – 2011
(12 pessoas mortas e 13 feridas)

Suzano (SP) – 2019
(dez pessoas mortas e 11 feridas)

São Caetano do Sul (SP) – 2011
(uma pessoa morta e uma ferida)

Caraí (MG) – 2019
(duas pessoas feridas)

Santa Rita (PB) – 2012
(três pessoas feridas)

Barreiras (BA) – 2022
(uma pessoa morta)

Sobral (CE) – 2022
(uma pessoa morta e três feridas)

Aracruz (ES) – 2022
(três pessoas mortas e 13 feridas)