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Fatores mentais causados pela COVID-19 aumentam incidência de casos de bruxismo

Condição pode causar desgaste dentário, dores de cabeça e deslocamento de mandíbula | Foto: Divulgação

De acordo com pesquisadores da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), em um estudo realizado em parceria com o Instituto Neurológico de Curitiba (INC), nos últimos 2 anos, 7 a cada 10 brasileiros já foram afetados pelo bruxismo por conta do estresse ocasionado pela pandemia de COVID-19. O início ou o agravamento dos sintomas foi relatado por 76% dos entrevistados ouvidos entre maio e agosto de 2020.

Outra pesquisa em andamento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) mostrou que a incidência de casos de bruxismo saltou de 8% para 31%, após o isolamento social. Até o fim de setembro de 2021, 70,9% dos pacientes eram mulheres e 29,1% homens.

A especialista em disfunção temporomandibular (DTM) e dor orofacial, Luísa Carvalho, esclarece que o bruxismo é o hábito de apertar ou ranger de dentes ou de manter a mandíbula com musculatura sustentada em uma mesma posição por muito tempo. “Isso ocorre de dia e acordado (bruxismo em vigília) ou a noite e dormindo (bruxismo do sono). As causas podem ser diversas, por isso é necessária uma investigação das condições associadas à saúde geral, estilo de vida e qualidade do sono. As principais razões são estresse, ansiedade, refluxo, apneia, uso de alguns medicamentos, dentre outras”.

De acordo com Luísa, a fragilização da arcada dentária é um indício de que a condição pode estar presente. “Dentes desgastados e quebrando com frequência, restaurações, próteses ou exposição de raízes dentárias, sensibilidade ao ingerir bebidas frias ou ácidas, cansaço muscular na face ao fim do dia ou ao acordar são os principais sinais de alerta para a desordem funcional”.

Ela elucida que o tratamento é multidisciplinar, voltado para a causa e controle do hábito e que deve ser feito após análise. “As opções variam de acordo com o tipo de bruxismo (noturno ou diurno), e se é a condição em si ou apenas consequência de outros problemas. A placa oclusal costuma ser a alternativa mais comum para proteger os dentes e a articulação”.

A estudante de design, Lorena Martins, relata como o bruxismo afeta seu sono. “Noites mal dormidas, onde você acorda com algum movimento mais intenso da mandíbula e sensação de apertamento dos dentes de cima com os de baixo”. Segundo ela, ao levantar, os desconfortos permanecem. “O travamento aconteceu com menor periodicidade comigo. Foram apenas duas vezes. Mas, acordar com dores de cabeça é um problema frequente”.

O operador de máquinas, Osvaldo Mendes, que também sofre com a desordem funcional, diz o que faz para aliviar as dores. “O estresse e a ansiedade aumentam a minha sensação de apertamento dos dentes e acabam gerando uma crise que pode durar mais de 2 dias. Por isso, faço movimentos com a mandíbula para tentar alongá-la, além de massagem no rosto buscando relaxamento do músculo”.

Luísa esclarece como a mente pode afetar os sintomas. “Ao sentir ansiedade ou estresse, é comum que ocorra aumento da tensão muscular, ou seja, pode ser que, em dias mais difíceis, o hábito de contrair a musculatura e/ou apertar os dentes fique mais frequente. Ter cuidado com a saúde mental pode ser uma saída nesses casos. Adequações no estilo de vida e acompanhamento psicológico são ferramentas importantes de controle”.