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Mais de 11% da população brasileira nunca foi ao dentista

OBrasil está à frente de grandes potências mundiais no que se refere a número de dentistas. De todos os profissionais do mundo, 11% estão aqui, mas essa vantagem parece não ser aproveitada pela população. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 11% da população nunca foi ao dentista. Entre eles, 2,5 milhões são adolescentes. Oito milhões de brasileiros, com mais de 30 anos, já usam prótese e três em cada quatro idosos não possuem nenhum dente.

A taxa de dentistas por habitante do país é, porém, acima da recomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU). É previsto um profissional para cada 1.500 habitantes, mas, em várias regiões brasileiras, existe um odontologista para cada 500 habitantes. Entretanto, estima-se que apenas 15% da população cuide da saúde bucal regularmente.

A cirurgiã dentista Cristiane Barbieri explica que a consulta deve ser feita em caráter preventivo. “Por esse motivo, a frequência mais adequada é de uma visita a cada 6 meses”. Ela acrescenta que a boca é considerada a porta de entrada de micro-organismos. “Sendo assim, visitar o dentista se torna fundamental para que possamos prevenir o acúmulo de placa bacteriana, o que é importante para a prevenção de muitos problemas de saúde bucal e sistêmico”.

Para a especialista, o fato de apenas 15% terem o hábito de ir a um consultório é cultural. “As pessoas não estão habituadas a isso. Muitos colocam a culpa na falta de tempo ou, até mesmo, o próprio medo de sentir dor. No entanto, para alguns pacientes, essa demora pode agravar algum quadro clínico. Muitos deixam para procurar um especialista quando já existe um problema instalado. O que, muitas vezes, torna o trabalho mais caro. Acredito que seja esse o grande ponto para a pouca procura”.

Foi o que aconteceu com a social media Adriana Bertolinni. Ela recorda que começou a sentir um incômodo no dente, mas ignorou a sensação por meses. “Minha primeira atitude foi procurar na internet o que poderia aliviar, li que água morna com sal ajudava e fiquei fazendo uso disso por semanas. Juntou preguiça, com falta de tempo e um certo medo”.

Com a medicação, Adriana recorda que a dor ia e vinha. “Só que começou a doer muito. Estava difícil me concentrar nas coisas. Como era final de semana, procurei uma urgência/emergência. Lá descobri que tinha uma cárie tão evoluída que precisaria de canal. Eles começaram o procedimento, mas depois tive que procurar o dentista para concluir”.

Ela aproveitou para fazer um check-up. “Descobri várias cáries, além de a minha gengiva estar inflamada por consequência da falta de periodicidade na limpeza. Ficou bem caro arrumar tudo. Talvez se tivesse ido antes, e com frequência, não passaria tanto aperto”.

Consequência

A cirurgiã dentista explica que existem doenças bucais que agem de maneira silenciosa, sem causar dor e, muitas vezes, quando se sente algo já existe uma doença periodontal instalada. “O que pode acarretar em reabsorção óssea e perda do elemento dentário. Por isso, a visita regular é de fundamental importância para a prevenção”.

Segundo ela, as consequências podem ir para além da saúde da boca. “A falta de cuidado dos dentes acaba aumentando o acúmulo de placa bacteriana e, se o paciente apresenta alguma lesão não curada, pode ser a porta de entrada para infecções em regiões como coração e pulmão. Por exemplo, um paciente diabético pode ter seu quadro agravado. Além disso, lesão não tratada pode se tornar permanente e maligna, o que é fator de risco para o câncer bucal”, conclui.