Melhorado um pouco a crise econômica, diversos setores voltaram suas atividades e precisaram contratar profissionais. Porém, a desigualdade de gênero no mercado de trabalho ficou ainda mais em evidência durante a pandemia de COVID-19. Em julho e agosto foram empregadas 84.208 mulheres em Minas Gerais, enquanto que a quantidade de homens foi de 174.375 no mesmo período, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia. Ou seja, o sexo feminino representa menos de 50% das admissões em relação ao masculino.
Ao analisar os dados recentes, o especialista em Recursos Humanos, Humberto Reis, explica que os números podem estar associados às características das vagas, que são mais voltadas ao público masculino. “Em julho e agosto, foi verificado que as maiores contratações foram para alimentador de linha de produção, com 7.500 empregos, e servente de obra, com 5.300. Além disso, os setores de comércio e serviços tiveram que interromper imediatamente o trabalho na pandemia. Esses são justamente os que absorvem a maioria da mão de obra feminina”, esclarece.
A socióloga Giovana Castro destaca que, apesar de serem maioria na sociedade, as mulheres trabalhadoras são as mais impactadas negativamente nesta crise sanitária. “Muitas perderam o emprego, tiveram redução salarial e estão sobrecarregadas com suas funções. Acontece também de precisarem largar o posto de trabalho para cuidar dos filhos ou da família. A pandemia veio para agravar ainda mais esse cenário”.
E, como se não bastasse a dificuldade de conseguir emprego, ainda tem a desigualdade salarial. “Existem pesquisas mostrando que uma mulher ocupando o mesmo cargo que um homem recebe um salário até 38% menor. Nós avançamos muito nessa questão, mas ainda temos que melhorar bastante. Estamos longe, porém, caminhando a passos lentos para alcançarmos uma igualdade de gênero no mercado de trabalho”.
Ainda de acordo com Giovana, as mães sofrem ainda mais nesse período. “Como as crianças estão sem aulas e fazendo as atividades de casa, a empresa enxerga isso como um empecilho para que ela possa se dedicar à função. Já com os homens isso não acontece, mesmo quando eles dizem que possuem filhos. Por essas e outras razões que a participação feminina no mercado fica prejudicada”.
Simone Marques, 38, está desempregada há 7 meses e diz que o mercado de trabalho tem preconceito contra as mulheres. “A situação já era ruim antes da pandemia. Agora, ficou ainda pior e ninguém quer dar uma oportunidade para nós, ainda mais quando falo que tenho três filhos. Já entreguei meu currículo em mercado, padaria, farmácia e nada de ser chamada. Quando me ligam para fazer entrevista de emprego, ficam de me retornar e isso não acontece. É uma situação desesperadora”, lamenta.
Ela conta que emprego tem, mas o mercado é dominado pelos homens. “É muito desigual. O sexo masculino consegue trabalho mais fácil e estão nos melhores postos. Outra coisa que pesa muito é a idade. Quando mais velha, mais difícil de ser contratada. As empresas não analisam suas competências e habilidades. Ficam focadas em detalhes não tão importantes para ocupar a vaga de emprego, o que é muito frustrante. A sorte é que minha família me ajuda e tenho recebido o auxílio emergencial do governo”, finaliza.