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OMS alerta para graves efeitos da pandemia na saúde mental da população

Um levantamento feito pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima que entre um terço e metade da população exposta à pandemia possa sofrer alguma manifestação psicopatológica. Os principais fatores para o abalo motivado pelo novo coronavírus é o medo de contaminação e a obrigação de isolamento social, o que tem causado ansiedade, depressão, síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e transtorno de estresse pós-traumático, que podem ser agravados se não forem tratados ou bem acompanhados por um profissional.

O assunto é tão sério que a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta sobre os reflexos da pandemia e tem aconselhado os governos a manterem uma rede de assistência psicológica a toda a população. O psicoterapeuta Weslley Carneiro explica que, como seres humanos, criamos uma necessidade por controle que nos permitiu a adaptação e desenvolvimento ao longo dos anos. “Contudo, tentamos trazer isso para o nosso mundo interno, dominando pensamentos e sentimentos, o que pode ocasionar muito sofrimento”.

Ele acrescenta que estamos passando por um momento mundial sem precedentes e que a insegurança sobre o futuro tem tomado conta da população, causando prejuízos a nossa saúde mental. “Diante disso, pessoas que já enfrentam algum tipo de sofrimento mental ou que tenham alguma predisposição, tornam-se mais sucessíveis aos efeitos do isolamento e demais consequências da pandemia, como o aumento de sinais de ansiedade e depressão, inclusive, por uma exposição excessiva a notícias veiculadas pelos meios de comunicação”.

O especialista afirma que os transtornos mentais não discriminam raça, gênero ou condição socioeconômica, uma vez que se trata de uma situação delicada e global. “Ainda assim, é necessário um olhar ainda mais cuidadoso para as pessoas que já tenham identificado serem portadoras de algum sofrimento mental, que nesse período podem ter seus níveis elevados”.

O negacionismo fortemente presente no Brasil é um fator que gera estresse e ansiedade. “O receio de contaminação e em tornar-se um vetor de transmissão da COVID tem feito com que as pessoas redobrem os cuidados com a higiene e a saúde. Contudo, os dados sobre outra parcela da população que está em negação da pandemia e que contribui para o aumento do número de casos, pode oferecer uma sensação não apenas de insegurança, mas também uma desesperança que torna esse momento que estamos vivendo ainda mais distante de solução”.

Carneiro ressalta que, entre especialistas da área, é quase um consenso de que é impossível atravessar esse período sem sentir-se afetado direta ou indiretamente. “Portanto, o primeiro passo é aceitar que estamos atravessando um momento histórico onde basicamente toda a população está sujeita ao contágio e suas consequências. Diante da clareza deste ponto, fica mais fácil darmos uma atenção maior a tudo aquilo que esteja em nosso controle e que viabilizem cuidar da saúde física e emocional até que seja encontrada pela ciência uma solução definitiva”.

Reconhecer nossa limitação e que temos ou não controle é uma importante saída. “A partir disso, pode-se evitar não apenas um índice superior de sofrimento mental, mas um maior equilíbrio para enfrentar os desafios reais que o vírus tem causado a população em todo o mundo”.

Alguns hábitos devem ser criados para combater as consequências psicológicas do isolamento social. Dentre eles: permanecer conectado com amigos e familiares; construir uma nova rotina; buscar atividades lúdicas e criativas, como pintar, organizar fotografias, leitura, ouvir música; manter atividade física e meditação são mecanismos importantes para conseguir lidar melhor com as pressões.

O psicoterapeuta ainda indica que a prática de meditação com foco na atenção pode ser um meio de diminuir os efeitos depressivos e ansiogênicos que situações de estresse podem nos causar. “É necessário também desenvolver meios de reconhecimento sobre aquilo que, efetivamente, temos controle: nossas ações. Com isso, desenvolvemos uma maior aceitação da falta de domínio sobre as emoções e pensamentos, reduzindo o gasto de energia na tentativa de buscar um restabelecimento da saúde mental”.

A bióloga Victoria Azalim está afastada do trabalho há 3 meses e tem buscado maneiras de driblar a rotina de ansiedade. “Eu e meus colegas de laboratório nos falamos apenas em reuniões semanais por videochamada. Tudo está parado. Chegou um momento que não deu mais para segurar a ansiedade e entrei em crise”.

Agora, ela tenta manter uma rotina de cuidados. “Estou tirando um dia da semana para mim mesma: pele, cabelo e unhas. Além disso, todos os dias, assim que acordo, medito. Na parte da tarde, tiro um momento para rezar e, à noite, faço atividade física. Tento sempre ligar para alguma amiga durante o dia. Tem dado certo, tão logo a pandemia passe, quero começar a fazer terapia para ter certeza de que não sofrerei consequências no meu psicológico”.