Jader Viana*
Quem conhece a história da Embraer sabe o importante papel que o Estado brasileiro teve em sua criação. A empresa de aviação, que está no topo das listas de empresas mais bem-sucedidas do país, carrega em seu DNA a busca incessante por inovação. Esse espírito, digamos, vanguardeiro não é à toa. É uma herança de seus fundadores, oriundos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), criado pelo governo brasileiro com o objetivo de estabelecer no país as bases para uma indústria aeronáutica capaz de nos defender das ameaças externas.
Ainda que tenha sido criado por objetivos predominantemente bélicos, o ITA traz uma lição que parece estar sendo ignorada pelo atual governo: o Estado tem um papel fundamental no impulso e desenvolvimento tecnológico. Sem os incentivos certos, a iniciativa privada não se organiza e não se dispõe a investir em pesquisa e desenvolvimento.
Relatos muito convincentes desse papel do Estado no desenvolvimento econômico podem ser lidos no livro “A Economia da Inovação Industrial”, que conta histórias de sucesso inovativos desde os tempos que precedem a revolução industrial inglesa. É uma obra detalhada sobre a evolução do desenvolvimento tecnológico na Europa e nos Estados Unidos. Histórias de gigantes multinacionais como Basf, Siemens, Boch, General Eletric, etc. estão todas lá e trazem um ponto em comum: o apoio direto ou indireto do Estado no sucesso das instituições.
Vale a pena assistir também ao filme “O Jogo da Imitação”, que conta a história de Alan Turing. O matemático britânico que, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou para o exército de seu país na criação de uma máquina processadora de informações, ficou conhecido como um dos pais do computador moderno. E, claro, o desenvolvimento dessa máquina custou uma fortuna ao exército inglês.
Todas essas histórias deveriam pelo menos sensibilizar os governos atuais brasileiro e mineiro. O pouco caso com que o ex-integrante das Forças Armadas e agora presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, vem tratando as instituições de fomento à pesquisa é, no mínimo, preocupante. Depois de anunciar, no ano passado, um corte pela metade no orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) – medida que depois foi amenizada pelo Congresso – o Governo agora, anunciou um novo presidente para a instituição que defende o criacionismo, em contraposição ao evolucionismo, teoria amplamente aceita e consolidada pela comunidade científica mundial. Nada contra quem acredita nas teorias divinas da criação do mundo, mas é incoerente colocar uma pessoa com essa crença e que defenda esse ponto de vista para dirigir um dos principais promotores do desenvolvimento científico brasileiro. Se bem que isso não deveria surpreender, já que o escolhido para a pasta de educação, Abraham Weintraub, tem cometido os mais terríveis erros ortográficos e gramaticas em seus textos e falas publicadas nas redes sociais.
A sanha privatizadora e de desmonte do Estado pelo Governo Bolsonaro e aqui em Minas pelo Romeu Zema (Novo) vão na contramão do que nos ensina a história. Em um momento em que a indústria de transformação no Brasil diminui ano após ano e atinge os mesmos níveis da década de 1950, deveríamos fazer o oposto. Criar programas governamentais de incentivo à inovação e aumento de produtividade. Deveríamos ter mais Estado e não menos. Obviamente precisamos de um Estado eficiente, que gaste com qualidade, que consiga gerar e mensurar os resultados. Os governos devem se preocupar em desenvolver uma política industrial que estimule os setores de maior intensidade tecnológica.
Para que tudo isso funcione, entretanto, é preciso mão de obra qualificada. Em outras palavras, é preciso investimento em educação. Universidades melhor aparelhadas, com recursos para desenvolvimento de pesquisas. Imagine se outras escolas no Brasil tivessem recebido os mesmos aportes e incentivos que recebeu o ITA. Quantas Embraers nós não poderíamos ter hoje?
*Jornalista e economista – aderviana@gmail.com