“Bola na área não altera o placar, bola na área sem ninguém pra cabecear, bola na rede pra fazer um gol, quem não sonhou em ser um jogador de futebol…”. Esse trecho da famosa música do Skank, move o sonho de muitas crianças e jovens por todo Brasil. O desejo de um dia vir a ser um profissional do mundo da bola, na maioria das vezes, toma conta do imaginário destes jovens. Porém, apenas poucas pessoas conseguem ver essa fantasia se transformar em realidade. O sonho de ser atleta não se realizou para muitos, mas a frustração de não ser um jogador profissional dá lugar a outro desafio: ser árbitro de futebol.
Embora sua presença seja imprescindível para a realização de uma partida, o ofício é alvo constante de duras críticas, muitas vezes injustas. O “juiz” (assim popularmente conhecido), quase sempre, é esquecido, injustamente, durante a alegria de uma conquista, sendo relegado ao segundo plano, ignorado na dedicação e eficiência de seu trabalho. Contudo, na derrota é ultrajado impiedosamente, não sendo poupado da ira dos torcedores, dirigentes e cronistas esportivos.
A performance dos apitadores mudou muito com o passar os anos. Me recordo bem de árbitros que corriam pouco em campo e estavam sempre distantes, pois suas avantajadas silhuetas lhes impediam de acompanhar as jogadas de perto. A atividade, que antes era realizada apenas como um hobby, tornou-se profissão, reconhecida pela Fifa e, aqui no Brasil, recentemente, regularmente constituída, embora na prática a realidade seja outra. Mesmo com essa regulamentação ainda é difícil se viver apenas do exercício da arbitragem. Conheço vários árbitros que dividem seu tempo entre treinos, viagens, cursos, torneios e suas atividades profissionais em distintas áreas.
Ser designado para conduzir uma partida também não é tarefa das mais fáceis quanto parece. Os árbitros devem contar com a sorte, já que toda escala profissional é feita através de um sorteio. Há casos que os profissionais do apito passam meses sem serem sorteados. Isso tudo influencia no seu rendimento e faturamento. Um árbitro que ostenta o escudo Fifa, por exemplo, tem mais chances de ser escalado do que aquele que detém apenas o escudo CBF.
Sem falar das questões geopolíticas. Recentemente, a Comissão de Árbitros da CBF escalou um árbitro do estado do Piauí. Até então tudo certo. Porém, esse árbitro, Sr. Antônio Dib Moraes de Souza foi escolhido para apitar um jogo da Série A do Brasileiro, na nona rodada da competição, onze anos após seu conterrâneo, João José Leitão ter apitado o confronto entre Fortaleza e Grêmio em 2006. Além de Dib, outros árbitros das regiões Norte e Nordeste do Brasil sofrem com o preconceito. Afinal, as competições nestas regiões não tem tanta força quanto no eixo Sul e Sudeste do país.
Mas se engana quem pensa que isto é empecilho para esses destemidos apitadores. Temos grandes exemplos de superação e sucesso como o paraense Dewson Freitas, atualmente no quadro Fifa, o baiano Alessandro Rocha Mattos, hoje o assistente com mais anos carregando o escudo Fifa no país e sem falar de Márcia Bezerra, árbitra assistente de Rondônia que é uma das representantes do quadro internacional feminino.
Mesmo com todas as dificuldades encontradas pelos árbitros que apitam as principais competições em nosso país, a meu sentir, entendo que a classe tem apresentado números favoráveis e demonstram significativa evolução. Nestas doze primeiras rodadas do Brasileirão não temos visto os árbitros como protagonistas nas páginas dos jornais e programas esportivos. Isto é um bom sinal, afinal de contas o que eles buscam sempre é serem coadjuvantes.