É fato que a internet facilita muito nossa vida cotidiana, afinal, por meio dela, é possível aprender a fazer uma receita, estudar, se informar sobre o que acontece no Brasil e no mundo, etc. E, na última semana, o Google, principal site de buscas, publicou um relatório com as principais pesquisas feitas pelos brasileiros. A divulgação apontou que, por aqui, as pessoas procuraram se atualizar, principalmente, a respeito de política, redes sociais e famosos.
No entanto, foi na lista do “Como fazer” que o relatório chamou bastante atenção. Em terceiro lugar, atrás apenas de “Como fazer o Enem?” e “Como fazer ovo de Páscoa caseiro?”, aparece “Como fazer as pessoas gostarem de mim?”. A pergunta intrigou especialistas e, para a psicóloga Sônia Eustáquia, isso se deve ao imediatismo que virou hábito. “As pessoas querem respostas rápidas para tudo, o que complica a vida no aspecto de compreensão geral do “eu” no mundo, de quem eu sou, de onde vim, para onde vou e o que preciso”.
A partir do momento que elas são acometidas por esses questionamentos, segundo a psicóloga, correm para a internet e encontram receitas prontas, por exemplo, “5 passos para fazer as pessoas gostarem de você”. E se prestar atenção em cada item e decidir segui-los, passa a ser alguém que está representando no mundo, pois as dicas vão fazer com ela deixe de ser si mesma”.
Sônia acrescenta ainda que a preocupação em corresponder a expectativa do outro pode explicar esse comportamento. “Dar amor é abrir mão de algum conforto meu e ofertar aquilo para fazer o outro feliz. Se sigo uma receita e faço o que o outro quer, não me respeito”.
A psicóloga afirma que todos precisamos de processos de autoconhecimento. “É duro se descobrir, mas também é bom e necessário. Precisamos aprender que algumas coisas da vida não têm solução. A gente tem que conseguir estar bem, em paz com nós mesmos e com os outros. E, para isso, é preciso exercitar nossas virtudes”.
Para ela, a busca no Google mostra um sentimento de falta. “Isso é inerente ao ser humano, ele nasce assim e quando precisa de carinho, é comum que busque formas de saná-lo. Algumas pessoas crescem com uma demanda grande de amor, talvez por não ter tido na infância. E isso vai sempre existir, mas pode ser amenizado pelos afetos durante a vida”.
Esse tipo de pesquisa pode gerar frustração, o que traz consequências. “Ao fazer uma busca assim, a pessoa não quer mudança, e sim milagres. Estamos vivendo uma epidemia de depressão, ou seja, uma época de pessoas frustradas, deprimidas e brutas”.
A solução, segundo a especialista, não está em um site, mas na vida real. “A primeira coisa a se refletir é que, para que o outro goste de mim, também preciso gostar de quem sou. Quem não tem, não dá. O autoconhecimento é uma descoberta diária, é preciso buscar maneiras de me amar e de apreciar todas as nuances do meu ser”.
Sônia acrescenta que a vida é uma projeção do outro. “Transfiro para ele o que eu sou, em transcendência. Se eu sou bom, o outro vai ser bom comigo. Por isso, precisamos valorizar nossas qualidades e aprimorá-las, compreender nossos defeitos e buscar corrigi-los, além de entender que não podemos exigir que o outro seja como a gente gostaria que ele fosse”, conclui.