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Novembro Azul: saiba como surgiu esse movimento e por que ele é tão importante

Imagine estar com um amigo no bar, tomando cerveja e ter a ideia de uma campanha que, futuramente, conscientizaria milhões de homens acerca de sua saúde. Foi exatamente assim que surgiu a campanha Novembro Azul. Em 2003, na Austrália, a dupla de amigos Travis Garone e Luke Slattery conversavam sobre a ideia de trazer o bigode de volta à moda. Inspirados pela mãe de um conhecido que arrecadava fundos para o combate ao câncer de mama, resolveram criar algo semelhante para o câncer de próstata.

A regra era deixar o bigode crescer e cobrar US$ 10 de cada bigodudo. Naquele ano, apenas 30 amigos se uniram à causa, mas, o que parecia brincadeira foi ficando sério. A ideia foi ganhando força e, no ano seguinte, eles criaram a fundação Movember. Todo o dinheiro arrecadado era destinado para o combate do câncer de próstata.

A semente plantada na Austrália foi colhida no Brasil pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, criado em 2008, com a intenção de divulgar aos homens a importância da prevenção e dos cuidados com a saúde. “A finalidade era informá-los da necessidade de realizar os exames para o diagnóstico precoce. Criamos a campanha “Um toque, um drible” que dava visibilidade ao assunto”, explica a presidente do instituto, Marlene Oliveira.

No entanto, ela conta que, no Brasil, a campanha Novembro Azul foi lançada apenas em 2011. “Nosso objetivo era amplificar a mensagem. O câncer de próstata é o segundo de maior incidência entre os homens brasileiros. Tínhamos que desconstruir estereótipos e reduzir a desinformação. Desde então, trabalhamos para alertar a sociedade sobre a necessidade de cuidado com consigo mesmo”.

O resultado disso tudo pode ser visto na pesquisa “Um Novo Olhar para a Saúde do Homem” realizada pelo próprio instituto. Segundo o estudo, 94% dos entrevistados disseram conhecer a campanha; 24% afirmam estar mais atentos a saúde e 8% começaram a fazer exames regularmente.

O objetivo durante todos esses anos, de acordo com a presidente, é promover a mudança de paradigma em relação à ida do homem ao médico. “Não só relacionado ao câncer de próstata, mas, de um modo geral. Para fazer isso, buscamos influenciar as tomadas de decisões das políticas públicas para a saúde, para que seja estabelecida uma linha de cuidados para os homens, assim como as mulheres já têm”.

Por isso, este ano, a campanha oficial leva a #Azultitude. “É uma ideia para que eles encarem com seriedade esse chamado a cuidar do corpo e também da emoção, visto que os dados apontaram que 63% se sentem ansiosos, 55% desanimados, 46% tristes e 11% em pânico”.

Passado o Outubro Rosa, Marlene observa um papel importante das mulheres no Novembro Azul. “Muitas vezes, é ela quem incentiva o companheiro, pai, amigo ou familiar a fazer os exames preventivos. Historicamente, a mulher já traz consigo o hábito de se cuidar e as campanhas de conscientização voltadas para o público feminino reforçaram essa conduta”.

Câncer de próstata
Apesar da campanha promover a saúde do homem de uma forma geral, os cuidados a respeito do câncer de próstata ganharam muita visibilidade após o Novembro Azul. “Ele é muito prevalente e acontece mais a partir dos 60 anos. Contudo, é importante lembrar que não existe uma idade para o surgimento deste tipo de câncer”, aponta o urologista Valter Vilela.

Ele acrescenta que um dos grandes problemas é o fato deste câncer não causar sintomas. “Existem vários tipos de tumores: uns mais agressivos, outros menos, mas, quando descoberto na fase inicial tem grande chance de cura. A grande questão é o tumor ser assintomático no início. Ou seja, quando o homem observa algum sintoma é porque está diante de uma doença mais avançada que pode, inclusive, ter espalhado pelo corpo”.
Vilela diz que o homem precisa querer ser o agente de mudança do seu bem-estar. “É fundamental uma consulta com um urologista para falar sobre histórico familiar, pois o câncer de próstata tem carga genética”.

O tabu do toque
Na percepção do urologista, o preconceito sobre o diagnóstico diminuiu, contudo, ainda existe. “E é um fator que afasta o homem do especialista, no entanto, o exame de toque não é a principal forma de diagnóstico. Além da análise do histórico e dos fatores de risco, entra o exame clínico geral – no qual é feito o exame do toque -, tem também o PSA, que é uma das principais análises de sangue usadas para descoberta do câncer e, depois, de acordo com os resultados, vai se definir a necessidade de outras estratégicas para detectar o tumor. Podem ser necessários ainda uma biópsia, ressonância e outros exames mais específicos”.

Vilela finaliza dizendo que, para além do preconceito, hoje existe outro dificultador: o medo. “Os homens têm receio de descobrir a doença. Entretanto, é necessário ressaltar que, quando descoberto em fase inicial, o câncer de próstata tem 90% de chance de cura”.