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Três a cada quatro brasileiros distorcem informações no currículo

Com o desemprego atingindo 13 milhões de pessoas, muitas buscam chamar atenção dos recrutadores para conseguir uma oportunidade de voltar ao mercado de trabalho. E é no currículo que os candidatos a uma vaga de emprego tentam se destacar e acabam distorcendo ou inserindo informações falsas. Um levantamento feito pela DNA Outplacement, uma consultoria voltada a executivos, gerentes e subgerentes em processo de recolocação profissional, revelou que 75% dos brasileiros mentem em seus currículos.

As principais mentiras encontradas são referentes ao valor do salário atual ou recebido no último emprego (48%) e a fluência no inglês (41%). O tempo de inatividade, assim como o grau de escolaridade e cursos realizados são outros tópicos deturpados por 12% e 10% dos profissionais, respectivamente. E não são apenas os brasileiros que distorcem informações no currículo. O mesmo levantamento foi realizado em outros países da América do Sul e constatou que a frequência de mentiras é de 85% na Colômbia, 78% no Peru e 72% no Chile.

O estudo também identificou que a prática é feita tanto entre quem está entrando no mercado de trabalho quanto entre os que já possuem uma carreira sólida e estão em busca de uma recolocação. “As razões são diferentes, mas ocorre entre os diversos níveis profissionais. Os jovens, normalmente, não colocam tanto peso na elaboração de seu currículo, enquanto executivos e gerentes se agarram à urgência em conseguir uma nova oportunidade para cometer essa irregularidade”, explica Hugo Liguori, diretor regional da DNA.

Para a coordenadora de recrutamento e seleção Simone Castro, a pessoa que decide acrescentar competências que não possui, para turbinar o currículo, está correndo risco e mais cedo ou mais tarde vai pagar caro pelas informações falsas. “Tudo pode ser facilmente checado ou comprovado, basta solicitar a documentação. E caso o recrutador ou o departamento de RH da empresa encontre alguma farsa, o nome do candidato pode ficar manchado no mercado e dificultar a procura por uma nova colocação”.

Ainda segundo Simone, uma das razões pela qual profissionais mentem se deve ao momento econômico que o país vem passando, com falta de oportunidades e alta concorrência. “Isso sempre existiu, mas está mais comum nos dias atuais. Acredito que os candidatos buscam por essas alternativas desonestas pela pressão de estarem empregados”, afirma.

Muitas pessoas acreditam que colocar uma língua estrangeira aumenta a chance de ser chamado a participar de um processo seletivo. “Essa é uma das mentiras mais fáceis de descobrir. Basta fazer um teste oral no dia da entrevista para constatar se realmente dominam o idioma. Às vezes, possuem apenas um pouco de conhecimento e escrevem que são fluentes”.

Ela diz que existem quatro avaliações para verificar qual o nível você se encaixa. “O básico é para os que têm leve compreensão, mas não conseguem manter um diálogo. No intermediário já é possível iniciar uma conversa. No nível avançado, o profissional fala bem e domina a leitura e escrita. Por último, o fluente é para os casos em que a pessoa tem entendimento total da língua”.

A dica de Simone é buscar qualificação ao invés de mentir no currículo. “Se existem cursos na área do cargo em que está pleiteando, comece a investir nesse conhecimento. Caso não tenha ensino superior completo, encare como uma oportunidade de finalizar a graduação. O mesmo serve para cursos de idioma. Ser desmascarado pelo recrutador ou até mesmo depois de ser contratado é uma situação desagradável”, finaliza.


Mentira tem perna curta!

  • Recentemente, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), adicionou ao currículo Lattes, que em 2015, iniciou um doutorado em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense (UFF), com um período de intercâmbio “sanduíche” em Harvard University. Porém, Witzel nunca cursou a universidade americana e, segundo a UFF, também não se inscreveu para participar da seleção do programa.
  • A professora de ensino técnico Joana D’Arc Félix de Sousa é mais uma que decidiu se destacar pelo currículo. Também na plataforma Lattes, acrescentou o título de pós-doutorado em Harvard, sendo constantemente citado em eventos que exaltavam sua história de vida. Depois da repercussão negativa, a informação foi removida do documento.
  • O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) tem citado uma pós-graduação em Economia como uma das credenciais que o qualificariam para assumir a Embaixada brasileira em Washington. O problema é que o curso ainda não foi concluído, pois falta entregar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Ele também diz que fala inglês, mas surgiram vídeos de entrevistas que mostram o deputado escorregando na língua estrangeira.