Elas estão longe dos números astronômicos dos maiores bancos brasileiros que, tradicionalmente, são os principais fornecedores no mercado de crédito, mas as fintechs não estão tímidas e acharam uma estratégia em plena crise econômica: os empréstimos sem garantia. Essa é uma das constatações da pesquisa “Nova Fronteira do Crédito no Brasil”, que analisou o segmento no país, feita em parceria entre a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD) e a consultoria PwC Brasil.
De acordo com o levantamento, os empréstimos sem garantias são oferecidos por 42% das fintechs de crédito que atendem pessoas físicas. O crédito direto ao consumidor, outra modalidade sem garantias, é o segundo produto mais comum, operado por 19% das empresas.
A pesquisa também traça o perfil do cliente dessas plataformas de crédito e, de acordo com os dados, 79% dos seus beneficiários são oriundos das classes C (39%), D (29%) e E (11%). As classes A e B respondem, respectivamente, por 13% e 8% dos solicitantes de crédito. Do total de clientes, 7% não têm acesso ao sistema bancário tradicional. Entre as pessoas jurídicas, 72% dos atendidos são empresários individuais, micro e pequenas empresas.
Para Thiago Alvarez, diretor da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), as principais diferenças entre os bancos tradicionais e as fintechs é que a segunda nasceu para resolver os problemas que já existem no relacionamento do consumidor com o mercado financeiro. “Para fazer isso, elas usam muita tecnologia e colocam o usuário como o centro do negócio. Essa mudança altera parte das decisões sobre o produto e o ritmo de oferta dele”.
De acordo com o Banco Central do Brasil, fintechs são “empresas que introduzem inovações nos mercados financeiros por meio do uso intenso de tecnologia e que atuam por meio de plataformas online”. Segundo o levantamento, a participação dessas empresas no mercado ainda é pequena. No mundo, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) estima que elas respondam por 0,5% do estoque total de crédito do setor privado. No Brasil, esse percentual é possivelmente menor.
Mas os números vêm crescendo. Em 2018, as 43 fintechs analisadas receberam mais de 6,4 milhões de pedidos de crédito de pessoas físicas – praticamente o dobro do ano anterior – e outros 276.355 de pessoas jurídicas – aumento de 6,5 vezes em relação a 2017. O total de crédito concedido também aumentou no mesmo período: passou de R$ 804 milhões para R$ 1,195 bilhão.
Como todo o processo e o acesso é online, outro dado que esclarece o panorama é a idade dos clientes: dois terços deles estão na faixa etária entre 26 e 47 anos. “Podemos afirmar que são os jovens que buscam mais as fintechs pela familiarização com os meios digitais. A forma de acesso pode ser uma explicação”, acredita Luís Ruivo, sócio da PwC Brasil.
Assim como os bancos, as fintechs usam como critérios de avaliação o histórico de pagamentos, o perfil de consumo e a renda de quem pede o crédito, mas não se atém apenas a esses dados. “A principal diferença é que elas fazem uma avaliação de risco individualizada para cada cliente. A tecnologia é a grande aliada e buscam por diferentes fontes para essa análise, como, por exemplo, as redes sociais. Normalmente, as startups focam, principalmente, em clientes que não têm fácil acesso a crédito, seja porque ele é negativado ou de baixa renda. Nesse sentido, se propõe a ser mais rápida e menos burocrática que os bancos tradicionais”, diz Ruivo.
A desburocratização também é um diferencial na hora da avaliação e na aprovação do crédito. De acordo com a pesquisa, 48% das empresas estudadas conseguem concluir as análises de risco de um cliente em até uma hora, sendo que 15% fazem isso em no máximo 15 segundos.
Apesar da modernidade, Ruivo alerta que os cuidados precisam ser os de sempre. “É necessário se informar bastante. Como em qualquer outro banco, o risco existe. Por isso, o cliente tem de estar informado sobre a questão financeira da fintech. Também é recomendado avaliar se os investimentos são protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Normalmente, os bancos maiores têm mecanismos de governança corporativa para garantir a estabilidade da instituição, além de maior transparência para publicação de resultados. Já em uma startup, esses mecanismos geralmente não são tão desenvolvidos, ao menos no início. É importante ressaltar que mesmo grandes instituições financeiras podem apresentar problemas financeiros e, por esse motivo, a avaliação tem de ser feita em ambos os casos”.