Em um momento de aperto financeiro, os brasileiros estão adiando o pagamento de suas contas. Segundo levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o volume de inadimplentes cresceu 1,7% em junho na comparação com o mesmo período do ano passado. E o grupo dos idosos entre 65 e 84 anos foi o que mais deixou de quitar suas obrigações, cuja alta foi de 7,5%.
De acordo com a entidade, até abril deste ano, era 62,6 milhões de pessoas com contas atrasadas, o que representa quase 41% da população adulta. “O ano de 2019 vem frustrando as expectativas de que haveria uma consolidação no processo de retomada econômica com reflexo positivo no dia a dia dos consumidores. Embora os juros estejam menores e a inflação dentro da meta, o desemprego ainda é elevado e acaba reduzindo tanto a capacidade de pagamento das famílias, quanto o apetite de compras”, avalia José Cesar da Costa, presidente da CNDL.
Ele afirma que a recuperação está mais lenta do que o esperado. “As projeções mostram que teremos um segundo semestre ainda tímido para as finanças do brasileiro, mesmo com o avanço de reformas estruturais, cujos efeitos são sentidos em longo prazo. A expectativa é de que a inadimplência comece a apresentar recuo a partir de 2020”, analisa.
O valor médio devido pelos brasileiros representa quase três vezes e meia o salário mínimo (R$ 998,00), alcançando, em média, R$ 3.252,70. Cada devedor possui pelo menos duas contas em aberto. As despesas com água e luz foram as que mais cresceram em junho de 2019, com alta de 17,2% na comparação com igual período do ano passado. Também subiram 2,7% as dívidas bancárias com cartão de crédito, cheque especial, financiamentos e empréstimos. As compras no carnê ou crediário, assim como atrasos em contas de internet, TV por assinatura e serviços de telefonia despencaram -5,2% e -20,3%, respectivamente.
Mais da metade dos débitos pendentes são com bancos ou instituições financeiras (53%). Em segundo lugar no ranking aparece o comércio com 17%. Já as dívidas com o setor de comunicação somam 11%, enquanto que o das empresas concessionárias de serviços básicos como água e luz representam 10% do total dos débitos não pagos.
O educador financeiro do SPC Brasil José Vignoli orienta que o consumidor priorize o pagamento das pendências com juros mais elevados, geralmente as bancárias. “É justamente para evitar o tal efeito ‘bola de leve’. Em certos casos, uma boa opção seria a substituição da dívida por outra com juros mais baixos, como é o caso do consignado”.
O estudo também mostrou que a inadimplência avançou mais na região Sudeste, com aumento de 3,4% em junho frente ao mesmo período do ano passado. Em segundo aparece o Norte, que apresentou alta de 2,2% na quantidade de devedores, seguido do Sul, que teve crescimento de 1,79%. As regiões Nordeste e Centro-Oeste tiveram recuos de -0,6% e -0,3%, respectivamente.
No quesito sobre faixa etária, as contas em atraso entre a população mais jovem diminuíram. Na casa dos 18 aos 24 anos, a queda foi de -22,7% e na dos 25 aos 29 anos, o recuo foi de -9,1%. Do total de consumidores com pendências financeiras no país, um quarto (25%) está na casa dos 30 anos.