Sem alarde, a Companhia Energética de Minas Gerais S.A. (Cemig) fechou, pelo menos, 39 localidades (postos e agências) em cidades do interior do estado. Trabalhadores e sindicalistas do setor de energia elétrica e prefeitos e vereadores reivindicaram, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a manutenção das bases operacionais da companhia em seus municípios. A Cemig não informa o número exato de localidades desativadas. O Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG) estima que 55 cidades tiveram suas unidades fechadas, mas confirma 39 municípios. A justificativa é redução de custos.
O coordenador-geral do Sindieletro-MG, Jefferson Silva, explica que as chamadas localidades são postos de trabalho de eletricistas que fazem os primeiros atendimentos à população. “Com o fechamento os trabalhadores serão transferidos para cidades-polo. Por exemplo, os trabalhadores de Taiobeiras, no Norte de Minas, serão transferidos para Montes Claros, cerca de 261km de distância. Os de Sacramento e Campos Altos serão transferidos para Uberaba, a 211km”, afirma.
Segundo os participantes da reunião na ALMG, a medida teria por objetivo preparar a empresa para a privatização e impactaria a população e a vida dos trabalhadores, alguns deles lotados nos postos há 30 anos. Apagões constantes, queda na arrecadação dos municípios, perda de produção, sobretudo na pecuária leiteira, e falta de energia em hospitais, escolas e órgãos públicos foram alguns dos prejuízos relatados pelos participantes. Em nota, a Cemig disse que vem realizando o remanejamento de alguns empregados para atender aos requisitos estabelecidos pelo órgão regulador, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Para Silva, os indicadores de custo operacional da Aneel não consideram as particularidades de cada estado. “A quantidade de trabalhadores e os gastos de Minas Gerais são diferentes dos gastos de Alagoas, por exemplo. Para Cemig se adequar ao custo operacional precisa diminuir os gastos, mas quem propôs isso, fez de trás da mesa, sem conhecer a realidade”.
Outros indicadores que a Cemig precisa atender são os de tempo médio de deslocamento (indicador que mede a eficácia da localização geográfica das equipes de manutenção e operação) e o tempo médio de execução (indicador que mede a eficácia do restabelecimento do sistema de distribuição). No ranking de qualidade dos serviços de distribuição de energia elétrica da Aneel, medidos por meio dos indicadores de duração e frequência de interrupções de energia, a Cemig ocupa o 14º lugar.
Segundo Silva, os fechamentos podem prejudicar a empresa a bater a meta desses indicadores. “Uberaba, por exemplo, vai atender um território maior do que já atendia. O tempo do deslocamento aumenta, em alguns casos, mais de 200km. Isso gera demora no restabelecimento da energia elétrica, coloca a população em risco no caso de cabos rompidos e aumenta a possibilidade de acidente com os trabalhadores em trânsito”.
Ação no MP
O presidente da Câmara Municipal de Bom Jardim de Minas, no Sul do Estado, Sebastião Flávio de Paula (PSB), anunciou que o legislativo local está entrando com uma ação no Ministério Público contra a decisão da Cemig. “Disseram que o fechamento do posto de Bom Jardim é definitivo. Isso é muito negativo para o desenvolvimento econômico da cidade”.
O vereador que, assim como outros moradores da região, sofre com as constantes quedas de energia, teme que a situação piore. Segundo ele, atualmente, há comunidades na zona rural que chegam a ficar até 72 horas sem energia.
Resposta
Até o fechamento dessa matéria, a Cemig não havia respondido às questões da reportagem sobre quais cidades foram atingidas, a demora no atendimento e os possíveis danos à população.