Três meses atrás, a Vale anunciava um recorde trimestral emblemático de produção e vendas: 104,9 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas. O cenário agora é outro, o rompimento da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), já tem causado danos financeiros à mineradora e, Minas Gerais, além de palco de um novo rastro de destruição de vidas e meio ambiente, deve colher também efeitos econômicos negativos.
Uma das medidas apresentadas pela mineradora às autoridades brasileiras é o descomissionamento (esvaziamento) de todas as suas barragens a montante (técnica usada em Mariana e Brumadinho). No total, 10 barragens no Estado serão extintas. A expectativa é que esse processo seja concluído em 3 anos, durante esse período, as operações de mineração no complexo Vargem Grande (Abóboras, Vargem Grande, Capitão do Mato e Tamanduá) e no complexo Paraopeba (Jangada, Fábrica, Segredo, João Pereira e Alto Bandeira) serão interrompidas.
O impacto estimado das paralisações é de 40 milhões de toneladas de minério de ferro ao ano e, segundo a Vale, a expectativa é de remanejar os empregados e não demiti-los. Para Mario Fernandes, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Faculdade IBS, o município de Brumadinho será, novamente, o mais afetado. “As economias locais serão prejudicadas pela redução do CFEM (Compensação Financeira Pela Exploração de Recursos Minerais). Ele representa mais de 65% de toda a arrecadação tributária do município. Sem ela, certamente a oferta de serviços públicos, como educação e saúde serão afetadas”. Para o economista, a situação poderia ter sido evitada. “Se na prosperidade, a Vale tivesse ajudado o município a diversificar sua economia, em situações como essa, a dependência seria menor”.
Para o presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Paulo Bretas, é impossível dissociar a Vale da economia mineira. “Ela tem um peso muito grande e isso vai ter que ser remedido ao longo do tempo. A tragédia deve refletir no endurecimento das licenças e fiscalizações ambientais. Antes havia um discurso de maior liberação e menor controle do Estado, no qual órgãos ambientais estavam sendo colocados de escanteio, agora eles devem mostrar força”, avalia.
Segundo Fernandes, o valor de mercado da empresa continuará a ser prejudicado. “Essa queda vai produzir uma redução no seu lucro e, como consequência, o pagamento de dividendos aos acionistas da empresa. O bloqueio desse montante vai sufocar a empresa sob o ponto de vista do giro de suas atividades, além do caos administrativo”.
Bretas acredita que apesar do transtorno, a imagem que a mineradora passará será outra. “Nós vamos perceber uma atitude bastante tranquila e condescendente por parte da Vale. É uma empresa muito bem assessorada. Ela vai fazer de tudo nesse momento para prestar solidariedade às vítimas e aceitar as críticas. Porém, como é uma empresa e tem todos os recursos jurídicos ao alcance das mãos, no momento adequado, confrontará na Justiça aquilo que julgue ser justo”.
Para o economista, a Vale vai investir pesado no marketing para recompor sua imagem. “O mercado internacional não responde bem. O reflexo disso é a queda nas ações da empresa. Assim que os investidores percebem que os ativos financeiros da Vale tendem a cair, como aconteceu, o mercado reage tentando se livrar das ações o mais rápido para perder menos”.
Para ele, isso é passageiro. “Não quer dizer que no futuro, ela não se recupere. No curto prazo, tudo é ruim. Em médio, vai depender muito das atitudes da Vale e suas ações estratégicas. No longo prazo, como uma grande mineradora e player internacional, tem todas as condições de dar a volta por cima”, acredita.
Fernandes concorda que o futuro está nas próprias mãos da Vale. “Se o mercado entender que essas novas estratégias de gestão produzirão resultados satisfatórios no futuro, a confiança volta e, voltando, os resultados da empresa podem melhorar. Só o tempo vai dizer o que acontecerá com a Vale e, em especial, com o município de Brumadinho”.