Já imaginou receber uma cédula eleitoral do próprio candidato e ser coagido por seus capangas a votar ali mesmo, na frente de todos, sem precisar comparecer a uma seção eleitoral? A cena, que hoje causaria espanto, já foi realidade para os brasileiros da época colonial, passando pelo Império e até a República Velha.
A urna eletrônica começou a ser implementada no Brasil em 1996. Hoje, ela conta com diversos mecanismos pelos quais o próprio eleitor ou entidades da sociedade civil podem verificar sua segurança e funcionamento. “O processo eletrônico de votação possui aparatos imprescindíveis, como a assinatura e o resumo digital, auditorias, testes e a votação paralela. Além disso, a urna não é conectada à internet ou qualquer conexão em rede, não há entradas para dispositivos, como pendrives e afins”, explica Adriano Denardi, diretor-geral do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG).
Sobre acusações
A etapa de votação paralela é aberta à participação do público, mas segundo Denardi a sala costuma ficar vazia. “Para se ter uma ideia, nem os partidos costumam aparecer, porque nem eles, exceto um, têm dúvidas sobre a integridade das urnas. Sobra lugar para acompanhar. Por conta disso, até organizamos visitas guiadas para incentivar o comparecimento”, comenta.
Sobre a possibilidade do voto impresso, Denardi é categórico. “Imagina despejar um saco de votos e começar a contar. Fazer isso sem absoluta segurança é voltar à época de botar a mão na cédula e sumir com o voto, coisa que acontecia. Caso o STF entenda a impressão do voto como algo constitucional e a ordem vier, vamos ter de cuidar para que não percamos as grandes conquistas da urna eletrônica”.
Sobre as diferenças dos processos de votação de outros países com o Brasil, para o Denardi, a questão é cultural. “O processo de votação brasileiro é homogêneo, nos EUA, por exemplo, não é. Cada estado tem sua tradição, em uns têm penas de mortes, outros não. Uns têm voto no papel, outros não. Há uma heterogeneidade no sistema de votação americano muito distinto do nosso. O próprio processo político é diferente, o mundo inteiro viu, Hillary Clinton ser eleita pelo povo e Trump por colégio. Sem entrar em méritos, mas a questão é que é outro modelo”, finaliza.