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Número de pessoas “sem religião” no Brasil tem se mostrado significativo

Os “sem religião” já são maioria entre jovens de 16 a 24 anos no Rio e São Paulo | Foto: Pixabay

No Censo de 2010, os “sem religião” eram 8% da população brasileira, o equivalente a mais de 15 milhões de pessoas. Esse percentual vem crescendo a cada década. Eles eram 0,5% em 1960, 1,6% em 1980, 4,8% em 1991 e 7,3% em 2000. Com o adiamento do Censo Populacional de 2020, devido à pandemia de COVID-19, não é possível saber com certeza o que mudou na religiosidade do país na última década.

Contudo, pesquisas eleitorais, cujas amostras são construídas com objetivo de refletir a realidade da população, dão pistas importantes neste sentido. As primeiras análises do Datafolha de 2022, por exemplo, mostram que, em nível nacional, 49% dos entrevistados se dizem católicos, 26% evangélicos e 14% “sem religião”, já acima dos 8% identificados no último Censo.

De acordo com o professor de pós- -graduação em Ciências da Religião, Carlos Frederico, há uma diferença entre religião e espiritualidade. “A primeira supõe-se a adesão de certas instituições e marcadores sociais, como uma comunidade, templo e rituais. Já a segunda tem relação com sentidos profundos da existência, conexões e capacidade de aderir a pessoas e ideias”.

Portanto, ser “sem religião” não significa ser sem fé ou crenças. No Censo de 2010, por exemplo, dos 15,3 milhões de brasileiros que se diziam “sem religião”, 615 mil (4% deles) se consideravam ateus e 124 mil se declaravam agnósticos (0,8%).

Segundo a doutoranda em Ciências da Religião, Cláudia Ritz, o grupo autodenominado “sem religião” em seu estudo, afirma ter crenças religiosas. “Ser ‘sem religião’ quer dizer ser desinstitucionalizado.

Eles garantem ter fé e argumentam praticar as próprias crenças de maneira desvinculada das religiões, pois as convicções estão com eles”. Eles mesmos conseguem gerir e regulamentar as próprias crenças, mesmo sendo elas herdadas de processos de transmissão familiares ou institucionais que tenham frequentado. Além disso, esse grupo pode incorporar elementos de diferentes tradições religiosas, apresentando credos plurais.

Nas análises do Datafolha para o Rio de Janeiro, os jovens de 16 a 24 anos que se dizem “sem religião” (34%) chegam a ultrapassar evangélicos (32%), católicos (17%) e outras religiões (17%). Em São Paulo, eles são 30% dos entrevistados, superando 27% de evangélicos, 24% de católicos e 19% de outras religiões.

Cláudia apresenta dois aspectos de sua pesquisa para esse fato. “A fragilização da tradição religiosa, por isso a geração jovem se sente mais autônoma para escolher a própria crença e a urbanização, pois, nesse processo, as pessoas se deslocam para outros centros”.

Ela também indica outros pontos relevantes a serem considerados. “Deve-se pensar ainda no aspecto da globalização e da tecnologia que dá uma difusão de acesso maior a outras culturas e tradições, esses são fatores que impactam diretamente na juventude atual”.

Os motivos para a população “sem religião” vir aumentando durante os anos podem ser diversos. A doutoranda ressalta que alguns pesquisadores dizem que o catolicismo acabou “doando” alguns fiéis para as demais religiões. “Se outras tradições estão com índice crescente é porque um fluxo está acontecendo”.

Cláudia lembra fatores que podem contribuir para o deslocamento. “O fenômeno do crescimento dos evangélicos tem que ser considerado e também o processo identitário da população negra é importante, pois traz correlação com religiões de matriz africana, apesar de eles também fazerem parte de outras religiões”. Ela afirma que o trânsito religioso no Brasil é algo evidente, porém avaliá-lo é complexo e exigiria um trabalho mais apurado.

A estudante Gabriela Moraes, de 23 anos, se considera “sem religião”, mas não sem fé. “A minha família é católica, então acredito em Deus, mas não só nele, possuo outras crenças e sempre fui muito livre em relação a isso, procuro não me prender a apenas uma instituição e seguir cegamente”.

Ela conta que já visitou diferentes terreiros e igrejas e não sentiu estranheza em nenhum. “Eu sempre respeitei todas as religiões e tinha a curiosidade de conhecer diferentes templos e culturas, acho que isso me ajudou a chegar à conclusão de que não preciso escolher apenas uma, se me sinto bem em várias”.