Agosto vai entrando e o cenário para a eleição de outubro vai ficando mais nítido e encorpado. Tanto a nível nacional, quanto estadual, as alianças vão se desenhado – ainda que, como é comum no Brasil, movidas muito mais por interesses particulares ou setoriais – e o eleitor vai ganhando opções mais concretas, que não sejam os aventureiros e demagogos de turno.
O Partido dos Trabalhadores, por inteligência maquiavélica, continua insistindo na candidatura do presidiário muito mais por estratégia política do que crença no plausível. Assim como insiste numa polarização com o extremo oposto, hoje representado pelo capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSC), um militar de carreira medíocre, um deputado sem um projeto relevante aprovado e que vive muito mais do oba-oba da sua claque de seguidores (na maioria homens brancos, classe média e alta) que acham que vão ganhar a eleição e governar o Brasil pelo whatsapp.
Para o PT, faz mais sentido e interessa muito a eleição de Jair Bolsonaro. Explico: porque o partido sempre poderia dizer que o processo eleitoral não tem nenhuma legitimidade, na medida em que Lula (PT) não teria podido participar da eleição. Teria sido impedido graças a uma “perseguição política”, a um ato de “arbítrio” perpetrado por juízes e promotores apoiados pela “grande mídia”. Isso é uma construção de estratégia política que poucos se dão conta, muito menos os bolsonaristas, que pensam com ótica de quartel.
O PT sabe que Lula não pode ser candidato. Como também sabe que Dilma Rousseff (PT) está inelegível. Nos dois casos, a Lei da Ficha Limpa é clara e até um estudante do primeiro período do curso de direito sabe disso. Contudo, o “discurso da perseguição” política e de cerceamento de seus direitos eleitorais, nos dois casos, faz parte de um processo de deslegitimação da próxima eleição. O partido está amealhando capital político.
A nível nacional, as chances de um poste escolhido no último momento são ínfimas, apesar de alguns acreditarem nessa possibilidade. Em todo caso, tal crença contribui para que o PT continue coeso, algo que, internamente, para ele é de máxima relevância neste momento.
Aparentemente, o partido está preocupado em ganhar esta eleição, quando na verdade, visa se posicionar enquanto oposição ao novo governo, dentro de um cenário institucional degradado – cenário este que lhe é de valia também em função do discurso revolucionário que está adotando. O PT, assim, regressa às suas origens. E é exatamente aqui que mora o perigo para a governabilidade do próximo governo. O PT não tem responsabilidade com o Brasil. O negócio desse povo é a eterna guerra entre o “nós e eles”.
DILMA SENADORA. No dia 19 de abril, publiquei no O Tempo, texto em que afirmava que Dilma Rousseff é inelegível e, portanto, pode ter sua candidatura ao Senado barrada pela Justiça Eleitoral. Reafirmo: assim que a ex-presidente registrar sua candidatura, o Ministério Público Eleitoral ou as coligações adversárias podem arguir a sua inelegibilidade, isso porque a Lei da Ficha Limpa torna inelegível quem é condenado por órgão colegiado por crime contra a Administração Pública. E foi exatamente isso que aconteceu com Dilma.
Ainda com a manobra que preservou seus direitos políticos, é necessário dizer que em âmbito do Direito Eleitoral, inelegibilidade não é pena, mas condição de registro. Ela não pode ser candidata porque a Lei da Ficha Limpa barra o registro de quem foi condenado por órgãos colegiados, e o Senado da República, ao funcionar como órgão julgador do impeachment, é, sim, o juiz natural do processo e também órgão colegiado. Aliás, sobre a manobra orquestrada pelo então presidente do Senado, Renan Calheiros, e o então presidente do STF, Ricardo Lewandowski, é bom dizer que, provocado, o STF pode derrubá-la, porque não tem amparo constitucional.
*Jornalista e consultor em marketing político e governamental