De tempos em tempos, o Conselho de Política Monetária (Copom) altera ou mantém a taxa Selic, percentual que é referência para as taxas de juros praticadas no mercado, como o rotativo do cartão, empréstimo, financiamentos, investimentos e cheque especial. Neste ano, o imposto atingiu o menor nível da história chegando a 6,5% ao ano. Mas, de acordo com uma projeção da REAG Investimentos, este cenário irá mudar com as eleições e o pleito de 2018 será o gatilho para um novo ciclo de altas.
Isso acontece porque o cenário político e econômico se torna incerto com as eleições presidenciais. “Temos apenas os nomes dos pré-candidatos. A prisão do Lula (PT), que era um representante forte, trouxe ainda mais dúvidas. Talvez se ele estivesse no páreo, teríamos um cenário mais sólido. No caso de ser eleito alguém do pró-governo, a política monetária será a favor”, afirma a economista da companhia Simone Pasianotto.
Simone prevê um novo ajuste para setembro de 2019. O déficit público representa 52% do PIB. Em setembro será 55,9% e o ano deve fechar em 56,6%. Diante desse cenário, será inevitável elevar a taxa básica de juros. “Efeitos práticos serão sentidos, como o aumento nos preços administrativos e a dívida líquida do setor público que começará a subir”, analisa.
Para 2022, há uma possibilidade de que juros e inflação fiquem equilibrados caso um presidente pró-mercado seja eleito. “A inflação tem fatores externos, mas se espera juros compatíveis ao nível de preço. A economia é baseada em expectativas, portanto, se for eleita uma pessoa a favor da cartilha de mercado, as projeções ficam mais alinhadas, porque o mercado se sente acolhido e a volatilidade diminui”.
Ela acrescenta que, nesse caso, o candidato passa a se preocupar com as perspectivas e a acolher mais o mercado. “Não é uma questão de pluralidade, se é esquerda ou direita, mas de confiança. Alguém que os segmentos consigam realmente depositar sua confiabilidade e projetos”.
Impacto no consumidor
O Brasil liderava o ranking mundial de juros mais altos. Atualmente, com a Selic próxima de 6,25%, o país caiu para 6º lugar, ficando atrás da Turquia, Argentina, México, Rússia e Índia. Contudo, mesmo com os percentuais baixos, o consumidor final não sentirá o impacto. “Isso porque a taxa de juros final é composta pela Selic e pelo Spread bancário (diferença entre o preço de compra e venda de uma ação, título ou transação monetária). Historicamente, o nosso spread é gordinho. Não temos nenhum movimento consecutivo para diminuir isso”.
O spread bancário do país é o segundo maior do mundo (39,6%) e é sete vezes maior que a média mundial, que representa 5,47%, de acordo com o Banco Mundial. “Por mais que diminua a Selic, o spread continua o mesmo, ele oscilou pouco. Por isso, o consumidor final não sente a magnitude da variação. Nós vemos os juros caindo, a alíquota de crédito mudou devido à legislação e a taxa do crédito especial continua a mesma. Contudo, não há alterações em relação ao spread e nenhum trabalho para que isso mude”.