Reza a lenda que no primeiro dia do ano, recebemos um livro em branco que possui 365 páginas para escrevermos uma nova história. A virada do ano simboliza para muitos o recomeço. Foi pensando nisso que a Campanha Janeiro Branco foi criada. “É o primeiro mês do ano. E a cor branca nos convida a criatividade e a refletir o que podemos ou não fazer para mudar de vida e cuidar da mente”, explica o psicólogo e idealizador da ação, Leonardo Abrahão.
Porém, ainda é um desafio falar sobre saúde mental. Dados da OMS apontam que 322 milhões de pessoas sofr3m de depressão em todo o mundo. No Brasil, 5,8% da população é acometida pela patologia, o número diz respeito a 11,5 milhões de indivíduos. Já a ansiedade atinge cerca de 9,3% dos brasileiros, porcentagem equivalente a 18,6 milhões de pessoas.
Para Abrahão, o assunto tem ganhado cada vez mais visibilidade. “A humanidade tem sofrido crescente adoecimento emocional que se expressa por meio da explosão nas taxas de transtornos mentais. Essas doenças são a ponta do iceberg. O assunto caiu na nossa frente porque, agora, a sociedade sofre os efeitos colaterais de um estilo de vida que tem levado a um desestabelecimento emocional”.
Ele acrescenta que tratar dessa temática ainda é um tabu. “Uma das possíveis explicações para isso são os reflexos da falta de sentido em que a humanidade mergulhou. E se as pessoas estão sequestradas pela lógica da produtividade, objetividade, preocupação com números, materialismo e consumismo desenfreado, passam a não quererem ser questionadas em relação a seu estilo de vida”.
De acordo com o psicólogo, a campanha visa criar uma cultura da saúde mental. “Toda a sociedade cobra muito que se tenha médicos, máquinas para exames, cirurgias, hospitais, leitos, ou seja, existe uma cultura da saúde física e dos cuidados necessários. Mas não vemos isso no que se refere a recursos para cuidar da mente, como psicoeducação nas escolas, psicólogos no SUS e verba para isso”.
Abrahão destaca que o afeto, diálogo, presença e sentido de vida são fundamentais para manter o emocional equilibrado. “O tanto que a gente trabalha e consome vale a pena? Estou vivendo para pagar conta? Eu amo o que eu faço? Nós nascemos carne e osso, mas é por meio da linguagem, simbolização e comunicação que o ser humano vai se constituindo. A presença também é essencial em um mundo de virtualização. E, claro, estarmos bem com nós mesmos”.
Foi justamente para se sentir bem consigo mesma, que a estagiária Gabrielle Silva decidiu fazer terapia. Ela diz que uma falha no tratamento de uma infecção urinária desencadeou um desestabelecimento emocional. “O problema subiu para o rim e fiquei quase um ano em tratamento. Fui afastada do trabalho e não conseguia ir para a faculdade. Foi muito desgastante”.
Após 6 meses de terapia, Gabrielle já nota diferença. “Fui auxiliada não só nessa questão, mas em outras. Eu cobrava muito de mim e dos outros, hoje sei a hora de parar, tenho o pé no freio. Sei que desistir de algumas coisas não é sinal de fraqueza e que está tudo bem começar de novo. Aprendi a ter prazer nas pequenas coisas e voltei a fotografar por puro amor. Antes eu não fazia nada por mim, agora entendo que não estou sozinha”, conclui.