Há quem diga que não. Mas a postergação da votação da reforma previdenciária para fevereiro (e com grandes possibilidades de ser sucessivamente protelada, lembremo-nos de que 2018 é ano eleitoral e as mudanças não são lá muito palatáveis para o eleitorado) vai, sim, afetar a economia.
Não pela reforma em si, que neste momento é questão mais política que econômica, mas pela inevitável necessidade de novo aumento do já reajustado déficit fiscal, hoje fixado em R$ 159 bilhões, e pela explosão das contas da Previdência, que no ano passado teve um rombo de R$ 152 bilhões. Mais da metade deste déficit – R$ 77 bilhões – provém de pensões e benefícios pagos aos quase um milhão de aposentados do funcionalismo público. Não se estranhe, portanto, que a maior resistência à reforma venha deste segmento. Sem ela, o déficit deste ano deve saltar para R$ 184 bilhões e para assustadores R$ 212 bilhões em 2018.
Não é à toa que o mercado, apesar de continuar a mostrar resultados animadores neste fim de ano (as montadoras de automóveis, por exemplo, estão recontratando trabalhadores) não consiga ocultar um certo estresse diante de uma situação que pode, inclusive, provocar um rebaixamento na classificação de risco do Brasil em 2108. Vale, neste contexto, fazer algumas observações sobre as razões dos resultados positivos do setor privado em 2017. Escrevi alguns meses atrás neste espaço, quando surgiam os primeiros sinais de recuperação em diversos segmentos econômicos, que a mudança decorria menos das ações governamentais de estímulo à produção que do fato de as empresas terem conseguido se descolar da política e estarem tocando de modo próprio os seus negócios e investimentos, alheias ao que fazia ou não fazia a administração pública.
A isto acrescento duas considerações. A primeira é a continuidade da expansão da atividade econômica neste final de ano, especialmente na indústria. Acredito que ela decorra, primeiro, de um efeito inercial do ambiente macroeconômico de 2017, em que houve uma queda até surpreendente da inflação, leve crescimento do PIB, taxa de juros em baixa – a Selic está em 7%, menor índice desde 1986 –, fatores que, em conjunto, favoreceram a retomada do consumo.
A outra, sem querer me arvorar de profeta da catástrofe, é a de que esses indicadores dificilmente se sustentarão ao longo de 2018. E por um motivo muito simples: sem as reformas – especialmente a da previdência e a fiscal, esta meio esquecida – o acúmulo de déficits reduzirá substancialmente os investimentos em saúde e educação, a geração de empregos, a produção e a renda da população.
Diante deste possível cenário, volto, agora, à observação que fiz sobre os resultados econômicos animadores deste fim de ano. As recontratações pela indústria, a produção em alta, o crescimento do varejo podem, na verdade, ser não mais que reflexo de uma janela de oportunidade, a de produzir e vender o máximo possível enquanto ainda há consumo.
Há ainda uma outra observação – um tanto maldosa, da qual não sou autor, apenas a li em alguma publicação cuja origem me escapa – a respeito da origem desses, talvez, efêmeros sinais de crescimento da economia em 2017: a de que o comportamento do mercado no decorrer deste ano é efeito, mais do que de uma verdadeira retomada, da simples supressão dos descalabros econômicos praticados, entre 2013 e 2015, pela presidenta Dilma Rousseff (PT). Pelo sim, pelo não, faz algum sentido.
Mas, mesmo com tanta coisa apontando para dar errado, não me entenda o caro leitor como um pessimista contumaz. Sou apenas um observador que procura ser atento aos fatos, deles tirar conclusões e, modestamente, comentá-las. Sou, na verdade, um otimista. Tanto que espero, neste fim de ano, que Papai Noel se lembre de nós, brasileiros. Que traga discernimento, patriotismo, coragem, princípios, equilíbrio, comprometimento, honestidade e espírito de fraternidade para todos nós e, especialmente, para nossos homens públicos.
Feliz Natal e um próspero Ano Novo! Sejamos otimistas!