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A cada 24h, 32 pessoas tiram a própria vida

De acordo com os indicadores do Mapa da Violência 2017, baseados nos dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, a taxa de suicídios entre jovens e adultos de 15 a 29 anos registrou alta de quase 10% em 12 anos. Esse ato é a terceira causa de morte entre os adolescentes brasileiros e um dado alarmante assusta: a cada 24h, 32 pessoas tiram a própria vida.

Neste ano, alguns acontecimentos forçaram a população a discutir mais sobre esse delicado tema. Aproveitando o Setembro Amarelo, que é voltado para ações de prevenção ao suicídio, conversamos com a fundadora da Associação pela Saúde Emocional de Crianças (ASEC), Tania Paris. Ela ressalta que “o suicídio não é uma opção e, sim uma falta de alternativa, pois o ser humano tem um instinto de preservação a vida”.

Fala-se pouco sobre suicídio na mídia, por se tratar de um assunto delicado. Existe uma maneira correta de abordar a questão?
O problema em veicular é que as notícias são levadas para um público muito heterogêneo. As pessoas que estiverem em uma situação ruim podem identificar o ato com uma opção. E não é.
Quando a notícia vem com a conotação de que com apoio não se chega a esse ponto, estamos incentivando a pessoa a procurar auxílio. Mas, a única maneira de evitar o suicídio, quando a pessoa já está com a ideia instalada, é buscar ajuda por meio de um profissional especializado.

Quais são os principais pontos desaconselhados?
Existem questões que são fortemente desaconselhadas. Um grande debate foi estabelecido em torno da série 13 Reasons Why, da Netflix, sobre a maneira como o tema foi conduzido. E o primeiro elemento desaconselhável é glorificar ou romantizar o suicídio, pois isso vai incentivar as pessoas que estão frágeis.

Outro ponto, também orientado pelas organizações de saúde, é que não é recomendado veicular a forma/método utilizado, pois primeiro vem a ideia e depois como será feito. Se tem algo que ensina como fazer, estamos piorando um processo que deveria ser interrompido. E, nunca se deve dizer o porquê aconteceu, pois uma das críticas mais firmes em torno da série é que ela diz que existiram 13 razões. E não é assim que as coisas acontecem. Por exemplo, quantas pessoas sofrem bullying e conseguem se livrar da situação, e seguir com vida? Muitas. É importante informar aos leitores que o suicídio é uma resposta drástica para um problema que pode ser temporário. E uma mensagem assim, salva.

Nos últimos 10 anos houve aumento nos casos. A que se deve isso?
É uma questão complexa. Não vi nenhum estudo que explique o porquê do aumento de uma forma direta. Mas sabemos que existem fatores que contribuem, por exemplo, o fenômeno das redes sociais que trazem dois fortes componentes: a cobrança da felicidade, que faz com que as pessoas coloquem máscaras. E a falsa impressão de comunicação, pois muitas vezes você tem mil amigos nas redes sociais, mas não tem nenhum. A proximidade humana é muito importante.

Quais são os sinais de alerta?
Quando se faz ameaças diretas, indiretas ou, até mesmo, na brincadeira, pois indica que a ideia passou pela cabeça. É preciso conversar seriamente sobre o assunto.
Outra questão é quando o tema morte começa a aparecer com muita frequência em conversas, desenhos, mídias sociais, etc. Além disso, é comum a mudança de comportamento e aparência, a pessoa que tem costume de se arrumar muito e para ou, até mesmo, o inverso é sinal de que algo está acontecendo.

Uma outra manifestação que pode aparecer em estágio avançado é quando a pessoa começa a se desfazer das coisas que gosta. Esses indícios podem surgir em diversas intensidades. Orientamos aos pais que não criem uma batalha quando perceberem os sinais, pois ainda não se sabe o que pode ser. O ideal é usá-los para um momento de aproximação, conversar e se mostrar disponível para que a pessoa enxergue que pode pedir ajuda.

E quando a pessoa não quer ser ajudada?
Esse é um ponto fundamental, pois muitas pessoas não acreditam que podem ser ajudadas. Isso é caso a caso, pois o indivíduo pode estar tão mal que vai precisar de alguma interferência. Por exemplo, no processo de acolhimento, ela pode ter alívio, mudar de ideia e pedir mais ajuda – isso é o que acontece no Centro de Valorização da Vida (CVV).

Existe blefe, quando se trata de suicídio?
Eu digo que levar ameaça a sério é uma recomendação básica. Por exemplo, “se você não me der um celular, eu vou me matar”. Nossa você precisa tanto disso que você se mataria? Vamos conversar sobre isso. E se não tem dinheiro para comprar o que é requisitado? Acredito que o ponto fundamental é que a maioria das pessoas que se suicidaram deram sinais – e uma quantidade significativa é confundida com chantagem ou com ações para chamar a atenção. O que defendemos é a necessidade de se ter canais de comunicação acessíveis. Se há uma ameaça e eu já rotulo e julgo, estarei obstruindo esse canal que pode ser vital em um momento de crise. Por hora, pode ser uma brincadeira ou teste, mas a maneira que agimos em relação a isso, indica se você tem vínculos emocionais.

Recentemente, algumas crianças e adolescentes morreram vítimas de acidentes causados por desafios da internet. Esse tipo de comportamento também é um alerta?
A maioria dos acidentes aconteceu porque os pais e os professores não tinham ciência de que eles estavam participando. A nossa missão é evitar que esse tipo de situação aconteça.
Então, se uma criança está se sentindo atraída por um desafio e isso é feito em sigilo, já é um alerta. Se ela falar com alguém, provavelmente, irá ser orientada se isso é uma boa atitude, por isso é importante ter um canal de comunicação. É preciso educar as crianças emocionalmente para que elas encontrem maneiras saudáveis de resolver seus problemas por meio de soluções positivas.