Acredite se quiser, mas aquele remedinho para sua dor de cabeça pode ser falsificado. E não só ele, o para o estômago, dor de dente, dor nas costas, etc. Um estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apontou que 10% dos remédios vendidos mundialmente são falsos. No Brasil, a média de produtos falsificados vendidos por farmacêuticos chega a 19%. Na internet, um a cada cinco produtos são adulterados. Em alguns lugares da América do Sul, esse número chega a até 30%.
O professor titular do Departamento de Produtos Farmacêuticos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Gerson Pianetti, explica que o consumo de uma medicação adulterada pode acarretar riscos à saúde. “Se a pessoa toma um medicamento é porque precisa. Logo, se tem alguma doença, ela não será curada, podendo até mesmo agravar. Além disso, não se sabe a composição daquele remédio, logo, ele pode comprometer os órgãos do consumidor, principalmente o fígado”.
Os principais medicamentos falsos são os para impotência sexual, oncológicos e hormônios de crescimento. O professor diz que, na maioria das vezes, eles são contrabandeados de outros países. “Existe um descontrole na fiscalização das fronteiras. A maioria desses remédios entram pelo Paraguai, que é a maior fonte deles”. Contudo, para ele, dentro do Brasil existem laboratórios que fraudam os remédios. “Não descarto a hipótese de que aqui existem locais que fazem os medicamentos com pouca qualidade, e isso também deve ser considerado falsificação, porque a composição dele foi adulterada”.
O farmacêutico alerta que o consumidor deve tomar cuidado com as medicações vendidas com preços muito abaixo do normal. “Muitos remédios são adulterados para que sejam comercializados mais baratos. Muitas farmácias alegam que o baixo preço é devido a bonificações vindas dos laboratórios, compram uma caixa e ganham duas como brindes e, com isso, conseguem fazer o custo cair”.
Pianetti afirma que as próprias farmácias tem que tomar o cuidado e que deveria haver uma vigilância maior em cima desses medicamentos. “Os estabelecimentos têm que se certificar da origem dos remédios que estão comprando. E é necessário qualificar os fornecedores e deixar, principalmente, que a vigilância faça o seu papel”.
De acordo com ele, existe uma falha na fiscalização. “Estamos vendo inúmeros casos no Brasil, como, por exemplo, a Operação Carne Fraca, que mostra que a Vigilância Sanitária está sem pernas para acompanhar o que acontece no país. Então, quando surge um problema como este, entendemos que falta uma fiscalização efetiva”.
Para o especialista, o fato de a Vigilância só agir mediante uma denúncia faz com que os dados sejam subnotificados. “É preciso um acompanhamento do mercado e dos medicamentos. Um exemplo são os remédios vendidos a preço de banana na cidade. Já devia haver uma investigação em cima disso, mas, se existe, não é do conhecimento da população”.
Anvisa
Em seu site, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), destaca que são feitas, em parceria com laboratórios fabricantes e as Polícias Civil e Federal, investigações acerca do assunto. Ainda de acordo com o portal, as penalidades sanitárias vão de multas (entre R$ 2 mil e R$1,5 milhão) até o cancelamento da licença e da autorização de funcionamento de estabelecimentos (isso para o caso de farmácias e drogarias que supostamente estejam comercializando esses medicamentos).
Em uma nota encaminhada via e-mail, a instituição acrescentou que o controle dos medicamentos vendidos no Brasil ocorre por meio de fiscalização em drogarias, farmácias e hospitais, e que essas ações são de responsabilidade das Vigilâncias Sanitárias das Unidades Federadas e para os Municípios (conforme Lei 8080/90). O controle também é feito por meio do controle de propagandas (atividade esse de responsabilidade da ANVISA).