De acordo com a pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), a proporção de domicílios com acesso ao computador (50%) e a de residências com acesso à internet (51%) permaneceram estáveis em relação aos estudos anteriores. Na classe A, o acesso encontra-se praticamente universalizado, diferente das classes D/E, onde apenas 16% dos domicílios estão conectados à internet, enquanto que na área rural esta proporção é de 22%, permanecendo muito abaixo dos 56% das casas em áreas urbanas. Isso significa que aproximadamente 30 milhões de domicílios das classes C e D/E estão desconectados, o que representa quase a metade do total de residências brasileiras.
“Atualmente, a internet no Brasil está muito relacionada à situação econômica. Quando analisamos a pesquisa, na região Sudeste 60% dos lares estão conectados à rede, no Nordeste 40% e no Norte 38%. Muitos podem achar que a inclusão digital está ligada a essas regiões com menor índice de conectividade, proporcionalmente isso é verdade, mas, no Sudeste, os 40% de domicílios desconectados representam 11,7 milhões de casas”, é o que revela o coordenador do estudo, Winston Oyadomari.
Para o especialista, esses números mostram dois pontos importantes a serem debatidos: “Quando questionamos os moradores sobre o porquê de eles não possuírem internet em sua residência, o motivo mais citado é o preço, ou seja, eles não conseguem manter o serviço por ser muito caro. Se os desconectados, que costumam ser das classes C e D/E, reclamam de não ter acesso pelo valor cobrado, então é necessário ações que busquem melhorar a acessibilidade do serviço para essas pessoas”.
Ele ainda acrescenta que o outro ponto bastante mencionado nas regiões rurais e no Norte é o fato de não existir serviços disponíveis para contratação. “O desafio de levar estrutura para esses lugares precisa ser discutido”, ressalta.
Preferência nacional
No Brasil, o telefone celular está presente em 93% dos lares, se tornando mais popular nas residências do que o rádio (70%), notebooks (32%), telefone fixo (31%) e canais por assinatura (29%). Só perdendo para a televisão, que está presente em 97% das casas. O aparelho móvel também ultrapassou o computador (25%) como o dispositivo mais utilizado para acessar a internet no país. “Essa última porcentagem exemplifica o que foi dito anteriormente. As pessoas deixam de usar a internet em casa e passam a utilizar o celular, pois é cobrada uma pequena taxa de acesso por dia, o que acaba sendo mais barato e acessível”, diz Oyadomari.
Entre os usuários da web que corresponde a 58% da população com 10 anos ou mais, 89% acessam a internet pelo telefone celular, enquanto que 65% fazem uso de um computador de mesa. Na edição anterior do estudo, os números eram de 76% e 80%, respectivamente. Entretanto, 35% dos usuários acessam a rede apenas pelo celular, sendo que na pesquisa anterior essa proporção era de 19%. Entre os indivíduos de classes D/E, 28% utilizam internet e a maioria deles (65%) usa a rede apenas pelo telefone. O mesmo acontece com as áreas rurais: 34% dessa população é usuária de internet e 56% utiliza apenas o celular.
O uso de internet feito exclusivamente pelo telefone ocorre especialmente entre os usuários de classes sociais menos favorecidas e da área rural. “Isso é positivo, pois, se não fosse esse acesso, as pessoas não estariam utilizando o serviço. Sem dúvidas, esse crescimento é importante para viabilizar o uso da rede, sobretudo para a população de baixa renda. Por outro lado, essas pessoas, não estão utilizando computadores, isso afeta bastante a experiência de uso do internauta, ou seja, ele utiliza mais ferramentas de comunicação e redes sociais e exerce menos atividades relacionadas à educação, trabalho, serviços de governo etc. Com isso, eles têm um acesso mais barato em um dispositivo comum como o celular, mas, também percebemos que o uso de internet pelo computador ainda está relacionado à práticas mais complexas”, conta o coordenador.
De acordo com Oyadomari, o estudo é importante para mostrar indicadores sobre a internet nos domicílios e o uso dessa ferramenta. “Partindo do princípio de que isso pode melhorar a economia, o acesso à informação, a comunicação e as habilidades de uso da tecnologia, tanto no aprendizado quanto no mercado de trabalho, é importante para gerar indicadores e estatísticas a respeito de como a população utiliza a internet. Isso faz com que as políticas públicas e pesquisas da área possam se orientar e definir suas prioridades”, conclui.