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Pesquisas eleitorais influenciam o seu voto?

Ariane Braga e Loraynne Araujo 

O resultado das eleições norte-americanas surpreendeu a todos: dada como favorita nas pesquisas eleitorais, a ex-secretária de Estado e democrata, Hillary Clinton, perdeu para o bilionário e republicano, Donald Trump. Essa mudança no cenário político, no final da corrida eleitoral, não acontece apenas nos EUA, o Brasil também passa por isso. Pode-se citar, como exemplo, o último pleito para prefeito de Belo Horizonte, na qual o candidato do PHS, Alexandre Kalil, passou à frente nas pesquisas e ganhou a disputa contra João Leite (PSDB).

O cientista político Rudá Ricci aponta que se compararmos o Brasil com Europa e, principalmente EUA, nota-se que aqui tem poucos institutos e pesquisas sobre o cenário eleitoral. “Significa que temos um oligopólio”.

Ricci explica que existem, atualmente, três tipos de institutos no país. “A primeira camada são os mais conceituados, como o Ibope, DataFolha, Vox Populi e MDA. O segundo bloco são os sazonais, que tentam ocupar um certo espaço, no qual a pesquisa tem um caráter de marketing e mercadológico, por exemplo, o instituto Paraná. Já o terceiro, são praticamente comprados e realmente não tem quase nenhuma importância, mas geram manchetes para jornais regionais”.


As pesquisas não decidem o voto do eleitor, é um fator de contribuição e não de decisão, diz Marta Maia, gerente técnica do Vox Populi


Como são feitas as análises?

O doutor em Ciência Política e diretor do Instituto Ver, Malcon Camargo, esclarece que as pesquisas podem ser realizadas a qualquer momento, mas em ano de eleição elas devem ser registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em relação a metodologia, a gerente técnica do Instituto Vox Populi, Marta Maia, conta que entre os métodos de pesquisa o mais utilizado é o quantitativo, pois é o método que permite mensurar as informações por meio de uma amostra representativa da população. “Já a qualitativa é mais utilizada para entender o comportamento do eleitor, tem mais profundidade e análise. São mais usadas para o planejamento de campanha dos candidatos”.

Marta diz que a escolha das pessoas para responder as perguntas é feita de maneira aleatória, mas que há um estudo para saber qual é o perfil que representa determinada região. “Os entrevistadores já saem com um retrato de quem eles devem entrevistar (sexo, renda, escolaridade, profissão etc)”.

Ela conta ainda que dependendo do estudo, alguns grupos são excluídos. “No caso das eleitorais, quem trabalha em institutos de pesquisa não respondem ao questionário, por exemplo. Já análises mercadológicas, eliminam jornalistas, publicitários etc”. Marta afirma que a abordagem mais utilizada é a face a face, sendo feita via domicílio ou em pontos de fluxo.

Em relação às discrepâncias nos resultados de um instituto para outro, a gerente comenta que as diferenças são pequenas e existem vários fatores que levam a isso. “Muitas vezes, os dados não se igualam devido a margem de erro, a forma de coletas, a escolha do perfil do entrevistado e, além disso, temos a onda de mudança de votos e o número de abstenção”, destaca.

Camargo corrobora com Marta ao ressaltar que: “Se compara muito os resultados de pesquisa com o da eleição. Não se pode atribuir isso como um erro da empresa, pois o eleitor pode mudar de opinião em frente a urna”.

Para a gerente do Vox Populi, as pesquisas têm o papel de informar e orientar as pessoas. “Independente do assunto, esse é um documento de informação que tem o objetivo de informar e orientar as pessoas. No caso eleitoral, acredito que elas não decidem o voto do eleitor. É um fator de contribuição e não de decisão”, destaca.

Influência nos eleitores

Ricci explica que, nos últimos 10 anos, há uma tendência de mudança do candidato em primeiro lugar nos últimos 10 dias da eleição. “O número de indecisos é muito alto, por isso a campanha política começa, de fato, em agosto. Faltando um mês é possível ter um posicionamento, que só se concretiza poucos dias antes da eleição. É neste período que as inúmeras informações que o eleitor capta tem influência na sua decisão”.

Para o cientista político, nem todos mudam o voto no final da campanha. “É uma minoria da população, em especial, a classe média tradicional, que representa 25% dos brasileiros e dentro desse grupo tem os mais instruídos, o que elimina ainda mais parte dessa fatia. Ou seja, algo em torno de 20% das pessoas é que estão atentas às pesquisas”.      

Na campanha

O presidente do Conselho de Comunicação de Minas Gerais, Helinho Faria, destaca que as pesquisas eleitorais são fundamentais para mostrar a situação do candidato. “Podemos montar estratégias de campanha e alterar ações em função delas”.

Em relação aos custos, ele diz que o investimento já prevê esses gastos. “Há o acompanhamento das análises tradicionais e também demandamos estudos quantitativos e qualitativos para conhecer melhor o eleitor. Trabalhamos com questões técnicas e reais, porque precisamos disso para o sucesso”.

O presidente da agência de publicidade Casa Blanca, Almir Sales, conta que a campanha eleitoral de um candidato a qualquer cargo público depende de diversos fatores, como, por exemplo, a participação na comunidade onde vive. “Se for um líder comunitário tem condições de fazer uma campanha mais barata, pois os eleitores já o conhece e ele tem um relação com as pessoas. Agora se o candidato não tem esse tipo de contato, o primeiro passo é tornar a pessoa e suas ideias conhecidas”.

Sales destaca que as pesquisas verificam o que os eleitores pensam naquele momento. “Na sociedade atual, as pessoas mudam de opinião com muita rapidez. É necessário ter uma ideia do que a população quer para formatar a campanha do candidato, pois o voto é dado para aqueles que atendam aos anseios da maioria”.

O publicitário conclui afirmando que as consultas de opinião devem ser feitas, também, após as eleições. “O representante deve saber o que o povo deseja para tentar fazer o melhor possível durante o mandato”.