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Uma velhice sem glamour

A juventude era a preponderante maioria, agora, é o Brasil envelhecido, cuja população acima de 60 anos é uma realidade em muitos lares. Produzir riquezas para garantir um futuro menos turbulento é um grande desafio. Porém, a longevidade deve ser considerada como uma dádiva da natureza, juntamente com um bom padrão de vida, embora isso dependa também de políticas públicas para possibilitar educação, lazer, segurança e saúde para todos.

Neste hiato entre a juventude e o amadurecimento dos habitantes, percebe-se com clareza o verdadeiro fosso social. Diferentemente dos abastados, os assalariados ou empreendedores, nunca conseguem ganhos e rendas financeiras suficientes para evitar os sobressaltos dos anos finais, exatamente quando os cuidados são necessários, por conta de uma série de providências, afiançado um atendimento minimamente digno para quem labutou durante anos a fio.

Para piorar, um enorme contingente de aposentados, com ganhos equivalentes a um salário mínimo, mediante o recebimento de aposentadoria ou pensão, valores pagos pelo INSS, se veem na obrigação de ajudar no sustento de outros membros ocupantes da casa. Esse tem sido o compromisso de grande parte dos 462 mil idosos de Belo Horizonte.

Esse numeral pode ser traduzido como algo em torno de 20% da população da capital mineira, cuja população geral é de 2,31 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Brasil, são mais de 36 milhões de idosos atualmente, com projeção de que no ano 2050, a nossa nação será a sexta mais velha do mundo. Em Minas, em BH e em todo o país, uma média de 53% dos aposentados representa a soma de mais da metade da renda da família.

A professora da Fundação Dom Cabral, Michelle Queiroz Carvalho, lembra que a grande quantidade de idosos sustentando as suas casas não é apenas consequência do envelhecimento da população, mas também devido a fragilidade financeira das novas gerações.

Fazendo um paralelo, os aposentados dos países desenvolvidos aproveitam o tempo livre para realizar longas e luxuosas viagens, curtindo o que há de melhor. Aqui no Brasil, os pensionistas e aposentados de salários mínimos ficam em suas humildes residências, ajudando a pagar as contas dos seus semelhantes. Mudar essa realidade é um desafio, especialmente, para o poder público no médio e longo prazo.