Para evitar que mais de 220 milhões de litros de esgoto sejam lançados inadequadamente na natureza, todos os anos, quantidade equivale a 90 piscinas olímpicas, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), com suporte das prefeituras e outros parceiros, desde 2011, tem orientado e incentivado a adoção de fossa de evapotranspiração (Tevap). Um sistema simples, barato e ecológico, que pode ser feito com materiais recicláveis e durar mais de 20 anos.
A Emater-MG orienta, acompanha e dá assistência técnica a agricultores, produtores rurais e prefeituras interessados na tecnologia. A proposta é direcionada principalmente às áreas rurais, mas sem esquecer as urbanas, com o objetivo de implantar uma solução correta para a destinação de dejetos humanos, muitas vezes despejados em mananciais do campo e das cidades.
A instituição já atuou na instalação de mais de 4 mil fossas Tevap, beneficiando aproximadamente 20 mil cidadãos. Em Glaucilândia, Norte de Minas, foram construídas 88, favorecendo cerca de 300 pessoas. Um investimento total de pouco mais de R$ 560 mil.
O técnico da Emater-MG e responsável pelo projeto, Antônio Dumont, elucida que no município, 100% das propriedades recebem água de um poço tubular. “O esgoto não tratado contamina o lençol freático, que depois vai abastecer as casas das pessoas. Certamente, essa iniciativa irá eliminar um problema de saúde, não só em Glaucilândia, mas na maioria das cidades que não têm o esgotamento correto”.
Como funciona
O sistema consiste em um tanque escavado que tem as paredes e o fundo impermeabilizados, para reter o material vindo do banheiro, sem infiltrar o solo. Os tanques retangulares podem ser construídos utilizando materiais como ferrocimento (cimento sobre uma estrutura de ferro), tijolos de cerâmica, bloco de cimento, lonas plásticas, caixas plásticas ou de fibra. Dentro, faz-se uma câmara de pneus velhos, que basicamente é um túnel, onde ocorre a decomposição da matéria orgânica vinda do vaso sanitário.
O tanque pronto é preenchido de entulho de obras até a altura dos pneus. Em seguida, uma camada de aproximadamente dez centímetros de brita; outra de dez centímetros de areia até, finalmente, a terra adubada. Depois, é plantada uma vegetação de folhas largas, principalmente bananeiras, que absorverá a água e os compostos mineralizados, decorrentes da decomposição da matéria orgânica que está dentro do tanque. As plantas terão o seu desenvolvimento e vão liberar o excesso de umidade, por meio da evapotranspiração.
Água da cozinha
O Círculo de Bananeiras é outra solução sustentável para as águas que vêm da pia da cozinha, chuveiro ou lavanderia, as chamadas águas cinzas. Ao todo, em Glaucilândia, foram instalados 88 Círculos de Bananeira. A iniciativa possibilitou a ampliação do cultivo de bananas no município.
Esse projeto consiste em um círculo escavado no solo, com profundidade de 60 centímetros e diâmetro de 1,4 metro. O buraco é coberto por material palhoso, como pequenos galhos, folhas e outros restos vegetais. Em volta, são cultivadas bananeiras, que por ter alta demanda de água, contribuem para retirar do líquido do solo, impedindo que a vala acumule umidade.
Senhor Ildeu José Xavier e dona Maria dos Anjos Xavier foram os primeiros, do município, a receberem os dois projetos. “É totalmente diferente das outras fossas, que eram só abrir o buraco. Essa de agora é bem mais prática, e o jardim é uma maravilha. Nós vamos cuidar como se fosse uma pedra preciosa”, conta dona Maria.
Dumont finaliza dizendo que antes do projeto, as águas cinzas nas propriedades que escorriam a céu aberto, formando poças d’água, eram focos de doenças e o esgoto ia para uma “fossa rudimentar”, que provocava contaminação do lençol freático. “Essa fossa trazia outro problema, durava de três a quatro anos e quando esgotava sua capacidade, tinha que abrir outra e o quintal ia ficando cheio de buracos com contaminação. Esse sistema vem para contrapor tudo isso”.