
Segundo a Pesquisa Indicadores Industriais, divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a indústria mineira apresentou um desempenho negativo em março. O faturamento da indústria geral – que inclui os segmentos extrativo e de transformação – recuou 5,8% em relação a fevereiro.
De acordo com a instituição, essa queda é justificada pela menor demanda nas empresas do segmento de transformação. Porém, apesar do índice negativo, a indústria mineira apresentou resultados positivos no acumulado dos últimos 12 meses, apresentando uma alta de 4,7%, beneficiada por uma demanda interna ainda aquecida. Essa resiliência da economia tem ocorrido em um ambiente de mercado de trabalho robusto e de estímulos fiscais do governo federal.
Para 2025, o estudo indica um crescimento econômico menos vigoroso em comparação a 2024. A Fiemg destaca fatores como o aperto monetário em curso, o impulso fiscal mais contido e a preocupação quanto à sustentabilidade das contas públicas como justificativa. Além do cenário internacional que segue marcado por elevada incerteza, após o pacote tarifário anunciado pelo governo dos Estados Unidos.
O doutor em economia e especialista em macroeconomia e economia industrial, Wallace Marcelino Pereira, explica que a indústria mineira está acompanhando o comportamento da indústria nacional que está começando a sentir os efeitos do novo ciclo de elevação da taxa de juros Selic. “Além disso, os consumidores estão mais pessimistas em relação à inflação, emprego e consumo. Ou seja, observa-se um processo de desaquecimento em curso na economia, porque os consumidores estão reduzindo o consumo”.
“Como a indústria mineira destaca-se nas atividades ligadas à extração mineral, automotiva, metalúrgica, alimentícia e da moda, parte dessas atividades industriais fornecem insumos para outras indústrias de Minas e do Brasil. Como a demanda está se reduzindo, por causa da inflação e dos juros mais elevados, isso diminui o consumo por produtos do setor, o que provoca um efeito em cascata, caracterizada pela queda de faturamento também em Minas Gerais”, esclarece.
Pereira pontua, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que a produção industrial das atividades de metalurgia e máquinas e equipamentos tiveram queda de 3% e 10,5%, respectivamente. “A China tem adotado um comportamento mais competitivo, fazendo com que a indústria de metalurgia, por exemplo, perca espaço domesticamente. Por fim, como ambas são atividades importantes na estrutura industrial mineira, a queda do desempenho afeta significativamente a indústria de Minas Gerais como um todo”.
Ele ainda acrescenta que o cenário é desafiador e demanda atenção. “É preciso aguardar a próxima reunião do Banco Central para saber qual será a decisão sobre a taxa Selic. Além disso, é preciso monitorar o comportamento da inflação nos próximos meses. De todo modo, o cenário indica tendência de leve declínio do faturamento”.
Dados nacionais
Já a pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que o faturamento real da indústria subiu 4,7% no primeiro trimestre de 2025. Contudo, o resultado do setor, em março, apresentou queda de 2,4%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2024, o indicador cresceu 10,8%.
Conforme o levantamento, o emprego industrial registrou estabilidade. Nos dois primeiros meses do ano, os postos de trabalho haviam crescido 0,4%. Com isso, o indicador encerrou o primeiro trimestre com alta de 0,8%. Por outro lado, a massa salarial e o rendimento médio dos trabalhadores da indústria fecharam os três primeiros meses do ano em queda. Após cair 2,8% em março, a massa salarial consolidou recuo de 1,9% no primeiro trimestre.
“O emprego industrial vinha de uma sequência de 17 meses de crescimento ininterrupto, com variações pequenas, porém consistentes. Nos dois primeiros meses, o ritmo de crescimento do emprego foi significativo e, agora, está estável. No entanto, ainda é cedo para apontar se é o fim desse longo ciclo ou se ele vai se repetir nos próximos meses, mas fica o alerta, sobretudo quando analisadas outras variáveis que, em sua maioria, foram negativas na passagem de fevereiro para março”, avalia o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.