Com a pandemia e o aumento das desigualdades sociais e educacionais, um fenômeno preocupante é a questão do abandono escolar. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a taxa de desistência no ensino médio na rede pública mais do que dobrou no ano passado.
Em 2020, o percentual de estudantes que abandonaram as instituições foi de 2,3%, enquanto que, em 2021, o índice subiu para 5,6%. Para entender a situação, o Edição do Brasil conversou com Ivan Gontijo, coordenador de Políticas Educacionais do Todos pela Educação.
Por que o abandono escolar no ensino médio tem crescido?
A taxa vinha caindo ao longo dos anos, mas com a pandemia de COVID-19, os números voltaram a subir. Por conta do isolamento social, houve a mudança para o ensino remoto e muitos estudantes não conseguiram acompanhar essa transformação, sem contar que uma grande maioria não dispunha de material, como internet de boa qualidade, celular, computador ou tablet. Isso contribuiu bastante para o abandono no período. Também tivemos uma grave crise econômica e as famílias perderam renda, sendo um fator que influencia para que os jovens deixem a escola e ingressem no mercado de trabalho.
Quais as principais razões que levam ao problema?
Um deles é que a escola deixa de fazer sentido para o aluno. Ele não entende o papel da instituição e a importância dos estudos. O segundo motivo é por questão de trabalho. Pesquisas recentes mostram que 30% dos jovens no ensino médio conciliam trabalho com escola. E, no caso das meninas adolescentes, um terceiro fator é a gravidez, o que faz com elas se distanciem dos estudos.
Os alunos dão alguns sinais antes de abandonar a escola?
Os que mais abandonam são aqueles com pior desempenho acadêmico e foram reprovados em anos letivos anteriores. Pode acontecer de eles estarem desmotivados e sem interesse pelos estudos, o rendimento ter caído ou possuírem algum problema pessoal. A frequência também é um indicativo. Normalmente, o aluno apresenta um alto grau de faltas durante o período. Por isso é importante monitorar essa questão para verificar quais são os jovens que necessitam de um maior apoio, visto que são os que possuem mais risco de abandonar a escola.
Quais podem ser as consequências do abandono?
Esses efeitos são tanto para os jovens quanto para a sociedade. Além de estarem atrasados nos estudos, podem ter dificuldade em encontrar um trabalho mais qualificado. Também é ruim para o futuro do país, pois você tem pessoas menos instruídas e faz com que o desenvolvimento seja prejudicado. O ideal é que tivéssemos abandono zero. E para que isso aconteça seriam necessárias diversas mudanças e adaptações no modelo de escola atual.
Como é possível evitar que jovens abandonem os estudos?
O principal ponto são os programas de busca ativa, ou seja, fazer o acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola e tentar trazê-los de volta à instituição. Por outro lado, também é preciso evitar o abandono, com algumas medidas importantes. Uma delas é o monitoramento da frequência constante, bolsa de estudos, principalmente para os mais vulneráveis e de baixa renda. Isso serve como um incentivo para que eles permaneçam na instituição. Além disso, ter materiais mais bem estruturados e adequados para a realidade da sala de aula, assim como programas de reforço e recuperação de conteúdo.
Escolas em tempo integral seriam uma solução?
Elas são uma medida importante, não apenas para melhorar os indicadores de desistência, mas também os índices de aprendizagem. Todos os dados mostram que as taxas de abandono e evasão nas instituições de tempo integral são inferiores às escolas regulares. A proposta pedagógica é diferenciada, como disciplinas eletivas, destaque ao protagonismo do jovem, aulas em laboratórios, infraestrutura melhor e professores com dedicação exclusiva. Sem dúvida, a expansão das escolas em tempo integral é fundamental para o Brasil e para melhorar os números do abandono.