Segundo a pesquisa “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 62,6% dos cargos gerenciais eram ocupados por homens e 37,4% pelas mulheres em 2019. A maior desigualdade por sexo foi encontrada nos 20% da população ocupada com os maiores rendimentos do trabalho principal (77,7% para os homens contra 22,3% para as mulheres). Do mesmo modo, a desigualdade se aprofunda nas faixas etárias mais elevadas: entre pessoas de 60 ou mais anos de idade, 78,5% dos cargos gerenciais eram ocupados por homens e 32,6% pelas mulheres.
De acordo com o estudo, as mulheres receberam 77,7% do rendimento dos homens. Enquanto a rentabilidade média mensal deles era de R$ 2.555, o das mulheres era de R$1.985. A desigualdade é maior entre as pessoas nos grupos ocupacionais com maiores ganhos. Nos grupos de diretores e gerentes e profissionais das ciências e intelectuais, as mulheres receberam, respectivamente, 61,9% e 63,6% do rendimento dos homens.
Nas regiões Sudeste e Sul as mulheres recebiam, em média, 74% e 72,8%, respectivamente, da rentabilidade dos homens. Nas regiões Norte e Nordeste, onde os ganhos médios foram mais baixos para homens e mulheres, as desigualdades eram menores (92,6% e 86,5%, respectivamente).
Além dos dados que mostram um cenário preocupante, conforme a pesquisa “Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero”, publicada também em 2019, pela Ipsos, 3 em cada 10 pessoas no Brasil (27%) admitem que se sentem desconfortáveis em ter uma mulher como chefe.
Isa Quartarolli, criadora de uma startup de educação que incentiva a liderança feminina na nova economia, diz que a representatividade de mulheres em qualquer lugar é importante e que está longe de ser uma ação protocolar com intuito de equiparar as estatísticas. “Elas contribuem realmente para revolucionar a gestão da empresa e trazer impactos reais nos negócios com muita inovação, engajamento e inspiração”.
Segundo ela, a partir do momento que não precisarmos mais falar sobre liderança feminina, as barreiras tendem a diminuir e teremos uma maior equidade de gênero. “Os principais desafios são chegar a esse 50/50 entre homens e mulheres em cargos de liderança, equiparação de salários para o mesmo serviço, trabalhar a cultura da empresa para mostrar a importância da ocupação desses espaços e evitar situações de machismo e assédio no trabalho. De acordo com o Fórum Econômico Mundial (FEM) vamos levar 136 anos para atingir essa equidade de gênero não só no Brasil, mas no mundo, então ainda é necessário bater nessa tecla”.
Ela destaca que, entre as mulheres negras e/ou mais velhas, a dificuldade em ser levada a sério e respeitada é ainda maior. “Quando a gente fala de liderança feminina o recorte já é grande e, se estendido para mulheres negras nesses cargos, a diferença fica maior ainda, o que mostra que tem muito a ser feito, como oferecer capacitação para que elas se sintam prontas para assumir essas posições”.
Isa salienta que mulheres não são ensinadas a se arriscar em empreendimentos. “Geralmente é por necessidade de ter uma fonte de renda ou adquirir independência financeira. Pode ser ainda porque foi demitida do trabalho ou engravidou e não conseguiu se recolocar no mercado. A parte financeira é outro complicador, por exemplo, a dificuldade do acesso ao crédito pelos bancos”.
Cláudia Ramires, dona de uma loja de artigos e presentes, conta que não é fácil se aventurar nos negócios, porque homens se sentem ameaçados. “Acho que muitos se incomodam ao ver uma mulher com opinião própria e inteligente, pois somos vistas como incapazes de liderar, o que torna o nosso caminho muito mais difícil. Temos que trabalhar muito mais para termos metade do reconhecimento que eles têm na maioria das vezes”.
Ela diz que estar em uma posição de liderança é algo que pode inspirar muitas outras mulheres em suas conquistas. “Com certeza outras vão olhar e querer fazer o mesmo, pois somos capazes e devemos questionar e lutar pelos nossos espaços. A sociedade precisa evoluir e é necessário que empresas comecem a mudar a mentalidade e contratarem não só mulheres, mas também pessoas negras e da comunidade LGBTQIA+, socialmente, precisamos desse equilíbrio”.