Dizem que quase toda menina já sonhou, ao menos uma vez, em ser uma bailarina. O desejo de infância pode ser a realização da vida adulta e com o ballet clássico não é diferente. A modalidade para pessoas mais velhas tem ganhado cada dia mais adeptos que, entre saltos, pliés e rodopios, quebram preconceitos e criam uma nova relação com o próprio corpo.
É o caso da advogada Tatiana Rosales, 40, que iniciou a prática há pouco mais de 2 anos. “Sempre fiz exercícios, mas queria começar algo diferente, que me desafiasse e trouxesse tranquilidade. Até que me indicaram o ballet adulto. Nunca pensei que a modalidade pudesse se adequar a minha idade. Sei que não tenho o peso, altura e ossos compridos, como os da bailarina que está no imaginário das pessoas, mas não deixei que isso me impedisse. Vesti o collant, saia, meia calça, sapatilha e fiz um coque logo na segunda aula. Não parei mais”.
Tatiana relata que não foi compreendida pelas pessoas ao seu redor. “Muitas não entendiam os motivos de eu me vestir de bailarina. Não se trata de ser profissional, mas de descobrir uma coisa que eu amo, me faz bem e me completa. Tudo isso somado a inúmeros benefícios. Percebi que a minha consciência corporal e flexibilidade aumentaram. Me sinto menos ansiosa e mais feliz. Comecei a estudar sobre a história da dança e tem sido uma experiência fascinante”.
A CEO de uma escola de ballet e professora da modalidade, Juliana Reis, menciona uma série de benefícios que a prática traz. “As aulas têm um poder terapêutico, social, físico e emocional. Elas contribuem para o desbloqueio de crenças e limitações, além de proporcionar uma autoconfiança, controle emocional, bem-estar e superação de limites. Para o físico, o ballet auxilia na reeducação postural, flexibilidade, coordenação motora, tonificação muscular, etc”.
Ela acrescenta que a técnica é ensinada desde o início, respeitando as condições físicas e as limitações dos alunos. “O objetivo de cada pessoa também é levado em conta. Os passos do ballet são transmitidos com os mesmos cuidados e detalhes técnicos que a dança clássica exige. Muitas vezes, por já terem mais maturidade e concentração, os adultos absorvem de forma rápida os princípios da modalidade”.
A partir da compreensão, evolução do aprendizado e resposta do corpo, é possível ir progredindo na dança. “Esse aluno vai entendendo a técnica, alinhando corpo e consciência e subindo de nível, aprendendo movimentos mais complexos. Tudo feito de forma gradativa, respeitosa e amorosa para extrair o melhor da prática. A dança é uma das atividades físicas mais completas que existem e pode ser estudada em qualquer idade”.
A professora de ballet Mariana Macedo esclarece ainda que, durante as aulas, os alunos vão construindo uma relação íntima com o corpo. “Eles vão ampliando a compreensão do que funciona e o olhar vai sendo apurado para os próprios limites. O cuidado que se deve ter é exatamente esse: saber a hora de fluir e esperar. Hoje, tudo é muito imediato, contudo, nosso corpo tem um tempo próprio para aprender e, por isso, o ballet reforça essa reflexão de confiança, tempo e paciência”.
Ela reforça que a dança é para todas as idades. “É possível começar a praticar na fase adulta. Basta querer, gostar e encontrar uma escola e professores de confiança. As pessoas tendem a crer que o ballet adulto será semelhante ao infantil, mas não é. O trabalho é feito de outra forma, sem perder o primordial que é a técnica. O gostar e a dedicação são fatores essenciais para começar”.
Tatiana diz que quando uma pessoa ama a dança e se conecta com ela de forma especial, é sinal de que a prática deve estar presente no seu dia a dia. “Independentemente de como sejam os corpos, iniciar é necessário. Não é preciso ter receio ou vergonha. Por isso, calce as suas sapatilhas e dance hoje e sempre”, conclui.