“Às vezes, parece um tique nervoso. Quando eu vejo o celular está na mão”. É assim que a empreendedora Anelise Lima descreve seu uso constante do aparelho. Ela, porém, não está sozinha. Dados de uma pesquisa encomendada pela Digital Turbine mostram que 20% dos brasileiros não conseguem ficar mais de 30 minutos longe do smartphone. Dos entrevistados, 19% ficam, no máximo, uma hora longe do celular. E, durante a pandemia, cerca de 40% dos brasileiros aumentaram esse uso.
O psicólogo Davi Alves atribui esses índices ao avanço tecnológico. “Cada dia surgem novos aparelhos com altas tecnologias e o que experimentamos é um fator natural relacionando a ideia de que, por meio dele, se resolve tudo. A partir disso, quando ficamos distantes do celular, é como se deixássemos de viver ou de estar conectado com o mundo”.
Para ele, é importante que a pessoa saiba, exatamente, a função do smartphone para que, assim, crie uma relação baseada em clareza. “Se o sujeito usa o celular para trabalhar, qual é o tempo do seu expediente? Se utiliza para estudar, em que período irá fazer isso? Se é para manter relações afetivas, por quantas horas irá se dedicar? Se existe lucidez nisso, então é possível exercer controle sobre esses comportamentos”.
A psicóloga Katiúscia Nunes esclarece que o primeiro indicativo que uma pessoa pode dar em relação ao uso abusivo é a conexão emocional que tem com o celular. “Além disso, alguns sintomas como irritação, ansiedade, angústia, agitação, frustração, nervosismo, desconforto, tédio, sudorese também podem ser sentidos. Todos eles compatíveis com um quadro de abstinência”.
A utilização exagerada dos smartphones pode trazer consequências. “Diante dessa abusiva imersão no mundo virtual, as relações sociais ficam prejudicadas. A pessoa passa a viver na virtualidade deixando de lado ou em segundo plano os amigos e familiares e acaba não aproveitando os momentos sociais. Além disso, esse comportamento pode causar danos na concentração e acarretar em falhas e desatenção com contexto laboral ou escolar. Esse vício pode lesar também o sono e trazer quadros de estresse, ansiedade e depressão. Outro ponto importante são os aspectos ergonômicos, com impactos na postura, bem como riscos de inflamações e dores no pescoço, coluna, mãos e dedos”.
Anelise conta que foi alertada pelo marido. “Ele se irritou comigo, mas soube conversar e isso fez toda a diferença, porque me fez perceber que eu estava me afastando da minha própria vida. No entanto, foi difícil diminuir o uso. Tinha medo de estar perdendo alguma coisa quando estava desconectada. Fui estipulando horários e, literalmente, deixando-o longe de mim. Comecei a ocupar minha cabeça com outras coisas e até a fazer atividade física. Hoje, já reduzi bastante a utilização, mas, pela minha saúde mental e convivência com as pessoas, quero diminuir ainda mais”.
Como controlar
A psicóloga Ellen Fiuza acrescenta que, atualmente, existem até especializações que auxiliam os profissionais em psicologia a lidar com esse transtorno em pacientes. “Há pessoas que precisam de ajuda especializada. Para alguns, reduzir o tempo gasto com o celular é simples, mas para quem é viciado, pode ser um grande desafio, principalmente porque vivemos em um mundo completamente globalizado”.
Ela ressalta que, hoje, existem aplicativos que podem ser baixados e que ajudam a controlar o tempo de permanência em frente à tela. “Algumas redes sociais já implementaram painéis nos quais é possível acompanhar o tempo de uso delas e a disponibilização de configurações para que possamos programar um período específico. Essa é uma tentativa válida”.
Por fim, Ellen explica que planejar horários pode ser importante. “Criar uma rotina é essencial e ela pode ser realizada de forma analógica, com o uso de ferramentas de papelaria, (bloco de notas, planner, bullet jornal), o que afasta a pessoa da tecnologia e pode ser eficaz para amenizar esse vício”, conclui.