A produção de veículos no Brasil apresentou alta de 9,7%, se comparado com 2023. Foram 2.550 milhões de produção total, segundo o levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Isso fez com que o país retomasse da Espanha o posto de oitavo maior produtor de veículos em 2024.
O fato mais representativo foi que a soma de vendas de novos e usados chegou à marca de 14,2 milhões de veículos leves vendidos, maior resultado na história do país. Nos emplacamentos, o fechamento foi de 2.635 milhões de unidades, volume 14,1% mais alto que o do ano anterior, e bem superior à média global, que foi de +2%. Foi o maior aumento no ritmo de vendas internas desde 2007.
De acordo com o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, há uma demanda reprimida por transporte individual que vem sendo atendida de forma crescente, graças às melhores condições de crédito. “Se essas condições melhorarem e se houver uma política de renovação de frota, mais pessoas poderão optar por veículos zero quilômetro”, ressalta.
Já para o economista Paulo Roberto Paixão Bretas, a economia brasileira vem crescendo pelo lado da demanda. “O desemprego atingiu níveis bem baixos e o governo tem irrigado o consumo com o fortalecimento do salário mínimo e os programas sociais. A classe C voltou a crescer e com ela vem um maior consumo de bens duráveis”.
“Também tivemos, até 2024, uma ampliação dos investimentos por parte da indústria. Só que as coisas vão mudando muito rapidamente e a partir do quarto trimestre já se pode perceber a perda de dinamismo da economia. A compra de bens duráveis é muito dependente de crédito, juros e do número de parcelas, e a facilitação desses fatores contribui para aumentar as vendas”, acrescenta.
Porém, ele destaca que a tendência atual é de desaceleração. “O governo se vê pressionado a equacionar sua situação de endividamento e existe uma desconfiança crescente em relação ao arcabouço fiscal. Não adianta forçar a economia a crescer via consumo, quando ela não consegue responder com produção interna ou mais importações”.
Exportações e importações
Conforme a Anfavea, as exportações de dezembro confirmaram o forte viés de alta do segundo semestre, que compensaram o fraco desempenho do primeiro e praticamente igualaram o resultado de 2023, indicando um 2025 de recuperação nos embarques. Ao todo, 398,5 mil autoveículos foram enviados para outros países.
Argentina e Uruguai foram os destaques em termos de crescimento, a ponto de compensar as quedas de envios para todos os outros países da América Latina. Já as importações tiveram o melhor período entre os últimos 10 anos, com 466,5 mil emplacamentos, alta de 33% impulsionada pela entrada maciça de eletrificados, em especial da China.
Bretas ressalta que o Brasil se tornou uma das plataformas mundiais para montagem e exportação de veículos. “Faz parte da estratégia de muitas dessas multinacionais seguir produzindo e exportando. Temos mão de obra qualificada e o dólar pode favorecer um aumento de vendas. Mas, é bom lembrar que quando essas empresas importam componentes para a montagem de veículos, em especial os microeletrônicos e peças mais sofisticadas, também estará pagando um dólar mais caro”.
Projeção para 2025
A Associação estima o emplacamento de 2.802 unidades para 2025, um aumento de 6,3%; a exportação de 428 mil autoveículos, crescimento de 7,4%; e a produção total de 2.749 novas unidades, um avanço de 7,8%, em relação a 2024.
O economista aponta que o aumento da concorrência é um dos principais desafios do setor em 2025. “Além das taxas de juros mais elevadas, uma possível queda no poder de compra da população e a descontinuidade de algumas cadeias produtivas ocasionais”.
“O governo federal precisa lidar com condições macroeconômicas difíceis em decorrência da falta de credibilidade disseminada, que decorre de uma dívida pública elevada, consequência de déficits primário e nominal. Estamos pagando muito para fazer a rolagem da dívida. O mercado desconfiado e criando desconfiança”, finaliza.