Zumbi dos Palmares (1655/1695) foi sucessor de Ganga Zumba, chamava-se Francisco Zumbi, uma alusão ao espírito ou fantasma imortal que assombrava pessoas. Palmares, o quilombo pernambucano, até então governado por Ganga Zumba, chegou a ter mais de 30 mil habitantes, dividido em dezenas de aldeias, em uma área correspondente ao tamanho de Portugal.
Francisco Zumbi chegou a ser coroinha e ajudava a celebrar missas do Padre Antônio Melo, seu tutor que o acolheu aos seis anos, depois de ter sido aprisionado pelas forças militares do Governo de Pernambuco, filho de escravos fugidos que era. Um acordo entre o governador e Ganga Zumba, reconhecendo a liberdade dos negros de Palmares, mas mantendo a escravidão fora deste território para os demais negros, teve de Zumbi severa resistência.
Segundo ele, ou todos os negros estariam livres ou a luta continuaria. Morto Ganga Zumba, levado pelos seus seguidores, Zumbi assumiu o posto de novo Governador de Palmares, líder e comandante, pela sua bravura, conhecimentos de guerreiro e formação militar inata. E a luta não parou até sua morte, traído por um seguidor.
A morte de Zumbi tem traços heroicos, como a luta pelo fim da escravatura 200 anos antes da Lei Áurea, a traição de um companheiro, Antônio Soares, em uma história similar à conhecida pelos mineiros na Inconfidência. Morto, decapitado, sua cabeça salgada ficou exposta em praça pública no Pátio do Carmo, em Recife, para desmitificar sua imortalidade. O tributo à sua memória é mais que justo, e a data de sua morte foi adotada como o Dia da Consciência Negra, agora feriado nacional, uma história que merece ser mais conhecida e estudada.
Contada a história de Zumbi, vale a reflexão a respeito da condição do negro na sociedade atual. É uma luta centenária, a partir de sua cruel captura na África, seu transporte vil em navios degradantes, os açoites, venda, fome, trabalho forçado, crueldade e extinção de sua crença, fé e identidade cultural. Tudo aos olhos dos brancos senhores feudais, igreja, sociedade, leis e capatazes, submetidos a todos os abusos. Vender, matar, trocar, açoitar, deixar morrer de inanição e uma série de ofensas humanas eram possíveis. Nada era pecado, exceto que os brancos procriassem das negras. Isso sim, era pecado. Se eram ricos os pecadores, donos de minas de ouro ou gado, sua penitência, revelada em confessionário, era fazer doações, compra de indulgências ou construir uma nova igreja.
A Lei Áurea, mesmo que tardia, custou ao Império a sua queda com a consequente instalação da República, feita pelos monarquistas de até então. Ao negro, foi dada a liberdade, somente ela. Era liberto, mas não tinha onde morar, comer, trabalhar, escola ou qualquer política que o inserisse na nova sociedade. Ao contrário, chegou o preconceito que a cada dia se faz notar nas mais diversas formas. Nossos mágicos políticos, mesmo os negros, ainda não conseguiram encontrar uma forma de compensar a raça negra de seu sacrifício humano, sua absurda e “denegrida” condição.