A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa Selic para 11,25% na última semana foi motivada por fatores inflacionários. Segundo comunicado divulgado pelo colegiado, uma desancoragem das expectativas de inflação pode levar a novos acréscimos na taxa básica de juros. O Copom ressaltou ainda a necessidade de um compromisso para a convergência da inflação à meta de até 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O aumento da Selic deve elevar as taxas de empréstimos e financiamentos nos próximos meses, como explica a planejadora financeira Marina Farias. “A Selic dita as taxas que os bancos pagam de juros. A instituição repassa esse custo para a pessoa ou empresa que toma o crédito, encarecendo o valor”, afirma.
Ela destaca que, neste momento de juros altos, é importante que o consumidor avalie a real necessidade de obter crédito. “Veja se há possibilidade de resolver a situação de outra forma. Pesquise por taxas menores, verifique se tomar um novo empréstimo ou parcelar outro é a melhor opção e faça simulações, pois amortizar pode oferecer descontos. Evite juros altos, como os do cartão de crédito e cheque especial”.
Marina orienta que, independentemente de Selic alta ou baixa, o planejamento financeiro é essencial. “Coloque parcelas que caibam no orçamento e não extrapole o limite de gastos. Busque sempre manter uma reserva e pagar o mínimo de juros possível para evitar o endividamento”.
Investimentos
A planejadora financeira lembra que, com a Selic em alta, uma boa alternativa é investir em títulos como o Tesouro Direto. “Eles rendem mais por estarem diretamente atrelados à Selic. O Tesouro Selic, os CDBs pós-fixados e até os títulos pré-fixados, que também são ligados à inflação, apresentam uma maior rentabilidade. Com a Selic alta, terão ofertas mais vantajosas no mercado, além das LCIs e LCAs”.
Inflação alta
O economista Gean Duarte destaca que a decisão de aumentar a Selic visa conter a alta da inflação. “Quando os juros sobem, o crédito fica mais caro, e tanto pessoas quanto empresas tendem a gastar menos. Isso ajuda a segurar a demanda, o que pode aliviar os preços. Basicamente, o Banco Central está tentando desacelerar a economia para evitar que os preços subam ainda mais”.
“O que influenciou bastante essa decisão foram fatores como a valorização do dólar, aumento dos preços dos combustíveis e alimentos, além da instabilidade global. Subir a Selic ajuda a controlar a inflação, mas há um custo: juros altos podem frear o crescimento econômico e dificultar a criação de empregos. Com o crédito mais caro, empresas e consumidores acabam gastando menos, o que pode limitar o crescimento”, acrescenta.
Por outro lado, Duarte afirma que, com o dólar valorizado, o Brasil se torna uma opção interessante para investidores internacionais. “Eles conseguem um retorno maior aqui, o que ajuda a controlar a alta do câmbio e torna os produtos importados menos caros. Esse efeito é mais visível em curto prazo. Já em longo prazo, dependerá de como o investidor enxerga o país e de outros fatores externos”.
Duarte observa que, enquanto o Brasil aumentou sua taxa de juros, o movimento foi inverso nos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed) reduziu a taxa em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 4,5% a 4,75%. Ele lembra que essa movimentação pode atrair mais capital para o Brasil, mas também torna o país mais vulnerável ao que ocorre no exterior.
“Se a economia dos Estados Unidos ganhar mais força e atrair investidores novamente, podemos ver o valor do dólar subir. Nos próximos meses, o Banco Central deverá observar a inflação e o cenário internacional para decidir se seguirá com mais ajustes nos juros, sempre buscando equilibrar o controle da inflação com o crescimento econômico”, conclui.