De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde, em Minas Gerais, de janeiro a julho, foram registrados 32.351 casos de sífilis em gestantes e 11.818 casos de sífilis congênita, que ocorre quando a infecção é transmitida da mãe para o bebê durante a gestação ou no parto (transmissão vertical). Ainda de acordo com o Governo de Minas Gerais, de 2020 a 2023 o número de casos da doença transmitida para o bebê aumentou, em média, 8% ao ano.
A sífilis é uma infecção bacteriana causada pela Treponema pallidum, transmitida principalmente por contato sexual desprotegido. Se não tratada, a sífilis pode evoluir para estágios mais graves e trazer consequências tanto para a mãe quanto para o bebê. “Os sintomas da sífilis nas gestantes variam de acordo com o estágio da doença. Na fase primária, o sintoma mais comum é o aparecimento de uma úlcera, geralmente indolor, que surge nos grandes lábios ou na vagina”, diz o médico Júlio Couto, membro do Comitê Gravidez de Alto Risco e Medicina Fetal da SOGIMIG e especialista em infecções congênitas.
“Na sífilis secundária, que é a fase seguinte da doença, há o surgimento de erupções cutâneas, normalmente caracterizadas por manchas avermelhadas na pele. Elas aparecem nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, e podem ser acompanhadas de febre, aumento dos linfonodos (ínguas) por todo o corpo e cansaço. Em seguida, temos a terceira fase da sífilis, conhecida como sífilis latente. Nesse estágio, a gestante não apresenta nenhum tipo de sintoma, mas os exames laboratoriais mostram alterações”.
Segundo Couto, os bebês com sífilis congênita podem apresentar uma grande variedade de sinais e sintomas, que podem surgir já no nascimento ou aparecer mais tarde, ao longo do desenvolvimento da criança. “Ao nascimento, é possível observar baixo peso, prematuridade, anemia, lesões na pele, aumento do fígado e do baço, e icterícia (amarelamento da pele). Algumas dessas crianças podem nascer sem apresentar sintomas, que só irão surgir posteriormente. Durante o desenvolvimento, é possível observar malformações ósseas, deformidades nos dentes, surdez, cegueira, convulsões e até retardo mental”.
Ele ressalta que o pré-natal é a principal ferramenta para identificar e tratar a infecção precocemente, garantindo a saúde da mãe e do bebê. “Durante o acompanhamento da gestação, são realizados exames de triagem como o VDRL, que detectam a presença da bactéria. O exame é realizado com intervalos de 30, 60 dias, depois aos 6 e 12 meses após o tratamento. Se a infecção for identificada, o tratamento com penicilina benzatina deve ser iniciado imediatamente, sendo o único eficaz para a sífilis em gestantes, pois a droga atravessa a placenta e trata o feto. Além disso, é fundamental que o parceiro da gestante também seja tratado para evitar a reinfecção, um dos grandes desafios no controle da sífilis materna e congênita”.
Prevenção
A presidente do Comitê Gravidez de Alto Risco e Medicina Fetal da SOGIMIG, a médica Suzana Pires do Rio, destaca que a conscientização é uma das principais armas contra a sífilis. “A prevenção da sífilis passa pela educação sexual, uso de preservativos e diagnóstico precoce no pré-natal. Com a detecção oportuna e tratamento adequado, podemos evitar complicações graves para mãe e bebê”, afirma.
A médica reforça a importância de que todas as gestantes realizem o pré-natal completo, incluindo os testes para sífilis, e que os profissionais de saúde estejam atentos para garantir que o tratamento seja feito da forma correta, tanto para a mãe quanto para o parceiro.