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Brasil precisa de R$ 961 bilhões para equacionar os déficits de habitação

Índice teve aumento de 5% em relação a 2019 / Foto: Fernando Frazão-Agência Brasil

 

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revelou que o Brasil precisaria de um investimento de R$ 961 bilhões para solucionar a carência de domicílios no país. Segundo dados do déficit habitacional de 2022, mais de 6,2 milhões de famílias vivem em residências inadequadas ou não têm moradia.

Conforme a Fundação João Pinheiro (FJP), o déficit registrado teve aumento de 5% em relação a 2019, quando chegou a 5,8 milhões de domicílios. Já o estudo elaborado pela CBIC mostra que, para os próximos 10 anos, a demanda por novas habitações deve chegar a mais 6,6 milhões.

Ieda Vasconcelos, economista da CBIC e responsável pelo levantamento, esclarece que hoje é impossível aplicar esses R$ 961 milhões em um ano. “Então, à medida que estendemos o prazo para solucionar o déficit, também teremos uma demanda sendo acrescida”.

O levantamento mostrou ainda que cerca de 75% do déficit atual, quase 5 milhões de moradias, estão concentrados na faixa 1 do “Minha Casa, Minha Vida”, que considera famílias com renda até R$ 2.640. O valor médio das habitações para esta faixa de renda é de R$ 135 mil. O segundo maior está na faixa 2, com renda de até R$ 4.400, com cerca de 20%.

Para zerar o déficit atual seriam necessários R$ 961,54 bilhões. Porém, o volume de recursos anunciados para o “Minha Casa, Minha Vida” para o período de 2023 à 2026, somados às contrapartidas, resulta em R$ 394,1 bilhões, apresentando um gargalo de mais de R$ 567 bilhões para alcançar o investimento necessário para suprir a escassez atual de moradias.

O presidente da CBIC, Renato Correia, aponta que a sociedade brasileira convive há muitos anos com carência de habitação, saneamento e estradas. “Precisamos aproveitar o movimento de projetos como o ‘Programa de Aceleração do Crescimento’ (PAC), ‘Minha Casa, Minha Vida’ e ‘Nova Indústria Brasil’ para avançarmos e resolvermos esses gargalos sociais”.

“Quando se investe em construção há o retorno econômico, com aumento de arrecadação, do Produto Interno Bruto (PIB) e geração de empregos. Mas, há também o retorno social, com a dignidade e cidadania das famílias”, complementa.

Ieda pontua que o impacto desse investimento na economia seria o aumento do PIB do setor em R$ 91,31bilhões, que corresponderia a um incremento de 0,9%, enquanto o PIB do país cresceria R$ 220,42 bilhões. “Também seria capaz de gerar 9,175 milhões de postos de trabalho na construção e 25,7 milhões de novas vagas de emprego em todos os segmentos”.

 

Infraestrutura

Para o Banco Mundial, a aplicação ideal em infraestrutura é de 3,7% do PIB do país ou cerca de R$ 403 bilhões. A ABDIB destaca que o recurso para infraestrutura deve chegar a 4,31% do PIB ou quase R$ 470 bilhões. A média de investimento do Brasil, no entanto, foi de 1,96% ou R$ 213 bilhões, em 2023, resultando em um hiato de R$ 197 bilhões em referência ao valor apontado pelo Banco Mundial e de R$ 258 bilhões estimados pela ABDIB.

De acordo com a CBIC, a projeção de impacto na economia, caso fossem aplicados esses valores complementares na infraestrutura do Brasil por dez anos, o investimento de R$ 197 bilhões ao ano adicionaria R$ 58 bilhões à arrecadação tributária do país e resultaria na criação de 915 mil novos postos de trabalho. Já a aplicação de R$ 258 bilhões ao ano pelo mesmo período geraria mais de 1,2 milhão de empregos e adicionaria 1,1% do PIB.

O segmento de transporte, por exemplo, registrou a maior distância entre o ideal de investimentos e o montante aplicado no setor. Para o Banco Mundial, o investimento ideal seria de R$ 213 bilhões, já a ABDIB seria de R$ 246 bilhões. Contudo, o Brasil aplicou R$ 41 bilhões em 2023.

O estudo apontou ainda a perda de participação da construção na taxa de investimento do país nos últimos anos, mantendo-se inferior à média mundial. De acordo com o levantamento, houve um pico de investimentos em 2013 e um recuo a partir de 2014. Em 2022, a taxa média de aplicação no setor da América Latina e Caribe era de 20,4%. No Brasil, o índice chegou a 17,8%.