Em 1941, sob a ditadura Vargas, durante a II Guerra Mundial, o escritor judeu austríaco Stefan Zweig, lançou simultaneamente no mundo, em alemão, sueco, inglês, francês e português o livro de sua autoria chamado “Brasil – O país do futuro”. Um grande sucesso de vendas, mas foi muito criticado pelo ufanismo a um país sob ditadura, até então alinhado ao eixo, Hitler e ao Duce Mussolini.
Zweig imaginou que as favelas desapareceriam, que o país teria, no futuro, um desenvolvimento único no mundo, pelas suas riquezas naturais, organização política, povo focado no desenvolvimento, educação e progresso. Seu biógrafo, o grande jornalista Alberto Dines, chegou a afirmar que o livro era um “caso único de livro convertido em epíteto nacional”. Era tudo que o brasileiro precisava para crer, até então, que através do “pai dos pobres” a pátria estaria salva, no futuro. Um futuro que nunca chegou, apesar de quase 100 anos passados, e dificilmente chegará nos próximos outros 100 anos. Até porque o futuro está lá, no futuro, onde é melhor que fique. Assim como o passado, a seu tempo e o presente acontecendo. Se somarmos as oportunidades perdidas pelo país, no cenário interno e externo, talvez fôssemos campeões mundiais da categoria, nós que tanto gostamos de títulos mundiais.
Estas observações são feitas a propósito do quanto estamos distanciados das soluções que o país tanto carece para a melhoria da qualidade de vida de seu povo. São de envergonhar qualquer nação as estatísticas brasileiras nos quesitos miséria, saneamento, educação e saúde. É inaceitável ter mais de 30% da população abaixo da linha da miséria, mais de 60 % sem esgoto, algo como 40% sem água tratada, 50% entre analfabetos totais e semialfabetizados. No Brasil, o simples fato de saber desenhar o nome é considerado alfabetizado. Pelo andar da carruagem, o futuro está muito distante, séculos de muito trabalho nos desafiam a fazer acontecer mudanças, mudar a forma de como nos ver, enxergar o que nos cerca.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), recentemente, divulgou a pesquisa de ausência de investimentos no país, demonstrando que ele não cobre a atualização dos ativos, ou seja, deixamos de acreditar/investir para um futuro melhor. Estamos a perder, anualmente, nossa capacidade geradora de crescimento, geração de empregos e renda, melhorias para as atuais e futuras gerações. Estamos vivendo um marasmo, uma bolha, congelante de mudanças para melhor, fruto da descrença dos empresários, empreendedores, governos de todos os níveis, agentes que poderiam ser os construtores do país do futuro.
Volto, então, ao livro de Stefan Zweig, escrito naturalmente sob a inspiração de um sonho, um desejo, de que o país que ele escolhera para viver, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, superasse seus complexos, a vocação inzoneira de seu povo e buscasse o que ele imaginava – uma civilização ao sul do planeta, abaixo da linha do equador, sem as amarras e influências europeias.