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Um cidadão exemplar

Minas Gerais só tem 303 anos e já é o suficiente para demonstrar como nos contornos de suas montanhas e mais serras e morros, ultrapassando limites e levando bom gosto e patriotismo, deu às alterosas e ao Brasil personagens do mais alto quilate, intelectual e humanista. Em 14 de dezembro de 2023, José Campomizzi Filho, um baluarte do Judiciário e do jornalismo, faria 100 anos. A trajetória extraordinária é lembrada pelos desafios e pelo legado que deixou no Ministério Público, no jornalismo e na literatura.

Nasceu em Divinésia em 1923 e morou principalmente em Ubá, filho de José e Erotides, descendentes de imigrantes italianos. Casou com Ica Arantes e teve nove filhos. Morreu em 1987. Sempre ligado às letras e ao direito. Fundou a Academia Ubaense de Letras e foi membro do Instituto Histórico e Geográfico (IHGMG) e da Academia de Letras de São João del-Rei.

Como jornalista, escreveu para o “Correio da Manhã”, “Folha do Povo”, “Estado de Minas”, “Diário de Minas”, “Folha de Minas”, “Gazeta Mercantil” e “O Debate”, do amigo e grande figura mineira, Oswaldo Nobre. Campomizzi Filho recebeu, em 1943, a estrela hollywoodiana Hona Massei (1910/1974) e publicou texto na revista “A Cena Muda” (1921/1955), fazendo sucesso com sua talentosa arte da escrita. Na revista de literatura, geografia e arte “Beira Mar” (1922/1946), para a elite carioca, com a crônica “Copacabana”, na última edição, exaltou a beleza do tradicional bairro carioca.

Foi um contista, cronista e poeta de primeira linha. No poema “Um profeta olha pra gente”, aprofunda: “O profeta Daniel/se confunde com a fera/O dístico latino/é um aviso que se não lê”.

Como promotor atuou em Tupaciguara, Senador Firmino, Itabira, Ubá e BH; como procurador promoveu um dos trabalhos mais destacados na Instituição, por onde passaram figuras ilustres como Affonso Arinos, Melo Viana, Antônio Carlos Andrada, Nelson Hungria, Tancredo Neves e Wenceslau Braz. O atual procurador- -geral é o competente Jarbas Fernandes Soares. Encontram-se nas fileiras do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) os também laboriosos procuradores Jacson Rafael Compomizzi – filho de Compomizzi Filho, meu contemporâneo na PUC Minas, cuja primeira Comarca foi a de Luz, onde nasceu Marcelo Maffra, Marcos Paulo Miranda, todos do IHGMG, além da luzense, Walma Leite.

No seu centenário, o MPMG promoveu a exposição “José Campomizzi Filho: um século de história”, com importante e rico material. Na abertura, fizeram uso da palavra os procuradores de Justiça Jacson Campomizzi, Élida de Freitas Rezende, o notável Joaquim Cabral Neto (IHGMG) e Jarbas Soares. A superintendente dos Correios, Ana Carolina Oliveira, lançou o selo comemorativo. Jacson Rafael apresentou o livro com o nome homônimo do evento, organizado por ele e pelo jornalista Moisés Mota (IHGMG).

O segundo prédio da procuradoria do MPMG (além da biblioteca e do Centro de Memória), uma escola e uma rua em Ubá levam o seu nome. Expressou Élida Rezende: “Celebrar o centenário de José Campomizzi Filho é também celebrar o percurso exitoso do Ministério Público, somatório de virtudes e predicados de seus artífices”. Ainda: “Resgatar a trajetória de nossos grandes personagens é como consultar uma bússola que, retratando o passado, indica direções para o futuro”.

Aproveito o ensejo para lembrar que o Ministério Público, por ser um órgão da mais alta importância para a defesa da ordem jurídica e dos interesses da sociedade, precisa e deve ser respeitado na sua existência e missão, dentro das prerrogativas do devido processo legal, em falta no país.