O futebol é o esporte mais popular do Brasil. A maioria absoluta da população, independente do sexo, idade, cor, religião, cultura ou condição social, gosta, torce, palpita e até pratica futebol. A mídia dedica enorme e importante espaço para o futebol. Estádios vivem lotados, jogadores são idolatrados, a bola é um brinquedo mágico e o manto de cada time é disputado a preço de ouro.
Alguns esportes tentam conquistar espaço, infelizmente, sem uma boa sequência. Tivemos a fase do basquete, do box, da natação, do futsal e do tênis. O que mais segura a onda é o vôlei, tanto o masculino, como o feminino.
De uns tempos para cá, um esporte sem tradição por aqui vem conquistando admiradores e, principalmente, despertando o interesse das crianças e dos jovens, especialmente das meninas. Trata-se da ginástica artística. Um esporte difícil para treinar e praticar. Falta estrutura, equipamentos e treinadores especializados. É raro encontrar um espaço público ou privado em boas condições. O investimento para formar atletas é alto e exige dedicação durante anos. Mais complicado ainda descobrir talentos.
Sabemos que o Brasil nunca teve política pública séria e competente para desenvolvimento do esporte. A tal lei de incentivo é uma piada. Gestores a nível municipal, estadual ou federal detestam o esporte. Consideram o segmento como gasto desnecessário, que não rende voto. Mesmo assim, lutando contra todos, enfrentando fortes desafios, a ginástica artística do Brasil vai rompendo barreiras, conquistando medalhas, sendo reverenciada em todos os cantos do planeta.
Tudo começou no início dos anos 2000. A pioneira em conquistar medalha foi Daniele Hypólito. Na sequência, mais medalhas com Daiane Santos, Diego Hypólito, Jade Barbosa e Arthur Nory. Vários outros atletas também participaram das competições nacionais e internacionais somando boas pontuações, mas sem a sorte da conquista de medalha. A atual geração de ginastas do Brasil tem como estrela maior Rebeca Andrade, uma supercampeã.
Ela iniciou sua carreira dentro de um projeto social em Guarulhos quando tinha 4 anos. Aos 10, foi levada para Curitiba para conseguir melhores condições de vida e treinamento. Sua mãe era faxineira, pobre, sem condições de custear seus treinamentos, professores, alimentação, tratamentos e outras despesas. Em 2012, foi contratada pelo Flamengo, onde está até os dias atuais.
Rebeca é um fenômeno e já conquistou dezenas de medalhas de ouro, prata e bronze nas mais variadas competições mundiais. É praticamente insuperável no salto, nas barras assimétricas ou na trave. Rivaliza com a atleta Simone Biles dos Estados Unidos, a rainha da ginástica artística e maior ganhadora de medalhas do mundo. Rebeca acaba de conquistar vários belos prêmios no mundial realizado em Antuérpia. Foi medalha de ouro no salto, prata no solo, prata no individual geral e bronze na trave.
E ainda tem mais. Rebeca ganhou medalha de prata em equipe, ao lado das talentosas Flávia Saraiva, Júlia Soares, Lorrane Oliveira e Jade Barbosa. Uma geração que promete muitas medalhas para o Brasil no futuro. Mais do que aplaudir as brasileirinhas vencedoras, o momento é para refletir e agir. Quantas Rebecas devem existir por este vasto Brasil, precisando apenas de uma oportunidade para brilhar e servir de bom exemplo para o planeta.
Que os nossos governantes, seja do Executivo, Legislativo ou Judiciário façam alguma coisa útil. Acreditar e investir no esporte de todos os segmentos é muito importante e bem mais barato do que a gastança sem resultado no combate às drogas, violências, doenças e outras tragédias.
Esporte é saúde, inteligência, educação, vida e amor. O Brasil precisa dar um salto de qualidade por intermédio do esporte. Muito além do futebol, que é bom, importante e saudável, mas não pode e não deve ser a única opção.