De acordo com dados do LinkedIn Economic Graph, em fevereiro deste ano, quase 25% das vagas remuneradas publicadas na rede mencionaram a possibilidade de trabalhar remotamente. No mesmo mês do ano passado, as vagas remotas eram 39% do total. O interesse dos profissionais, no entanto, não tem desacelerado da mesma forma, visto que, segundo o levantamento, a proporção de vagas remotas está diminuindo mais rápido do que o interesse dos profissionais por elas.
Em fevereiro, as cinco indústrias no Brasil que tiveram as maiores proporções de vagas remotas foram administração e serviços de suporte (47,59%), serviços profissionais (42,29%), educação (29%), tecnologia, informação e mídia (26,17%) e administração pública (20,96%). Essas áreas concentram ocupações que podem ser realizadas digitalmente, somente com um computador e uma conexão com a internet, o que representa apenas uma parcela da força de trabalho do país.
O Brasil tem cerca de 20,4 milhões de pessoas com ocupações que podem ser adaptadas para o home office, o que equivale a 24,1% dos ocupados no mercado de trabalho, segundo cálculo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A diretora de recursos humanos, Letícia Figueiredo, afirma que o apego dos trabalhadores, principalmente os mais jovens, ao home office faz sentido. “Ele não só elimina horas de deslocamento, mas ajuda a economizar gastos e leva a uma melhor gestão de tempo entre trabalho e vida pessoal. Além disso, é um ganho para a diversidade, ajudando a manter as mães no mercado de trabalho e abrindo oportunidades para profissionais fora dos grandes centros”.
Ela explica que a geração Z vem puxando alterações no mercado de trabalho. “Será uma questão de tempo até que os negócios precisem investir em uma mudança de cultura para se tornarem mais competitivos. O retorno ao presencial pode limitar o acesso a talentos, especialmente novas gerações e grupos diversos. Com profissionais qualificados alcançando o pleno emprego no país, a demanda por flexibilidade pode ser decisiva na atratividade de um empregador”.
O analista de sistemas, Rodrigo Neiva, conta que desde a pandemia trabalhava totalmente de forma remota, porém, a empresa mudou para o modelo híbrido. “Antes eu podia fazer viagens ou visitas a casa de alguns parentes e trabalhar de lá sem problema algum, o que agora já não é mais possível, porém, ainda consigo ter uma boa autonomia do meu tempo. Não considero ter um trabalho totalmente presencial mais, estresse e demora no trânsito são fatores que pesam para mim, prefiro fazer o meu trabalho de casa, mas no momento, o híbrido ainda está me atendendo bem”.
Ele diz que deve haver combinados entre empresa e empregado para ver qual regime funciona melhor para cada um. “Em vez de procurar argumentos que defendem um lado ou o outro, o mais racional é tentar minimizar os problemas de cada regime e maximizar seus benefícios. Dá para pensar, por exemplo, em como melhorar a interação e a troca de conhecimentos entre profissionais remotos, assim como tornar a comunicação interna mais eficaz”.
Para Letícia, o motivo da volta de muitas empresas ao presencial é a queda na produtividade, que pode ser causada pela comunicação dificultada e falta de interação que pode prejudicar a criatividade. “No escritório, estamos a todo tempo conversando com os colegas, pedindo ajuda e conselhos e estar 100% em casa pode atrapalhar, dependendo da função. Muitos estudos mostraram que houve queda na produção de várias empresas no regime home office e muitas vezes, mais minutos trabalhados no dia, e não de um uso mais eficiente do tempo”.
A diretora de recursos humanos conclui afirmando que devemos nos adaptar aos novos tempos e achar outras formas de trabalho em acordo. “Nicholas Bloom, que hoje lidera o WFH Research, admitiu que o regime totalmente remoto está ligado a uma queda da produtividade, de 10% até 20%. Mas reforça que no regime híbrido isso não acontece. Em seus estudos referentes à 2022, a conclusão foi que não havia impacto algum, nem para melhor, nem para pior. O híbrido, então, termina com uma vantagem sobre o presencial. Além de não diminuir a produtividade (e possivelmente até melhorá-la um pouco em alguns casos), é associado a uma sensação maior de bem-estar dos trabalhadores”.