A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma resolução proibindo, temporariamente, a utilização e comercialização de todas as pomadas modeladoras capilares. A decisão é resultado de uma avaliação de risco feita pela instituição e foi adotada por conta do número de casos de efeitos graves associados ao uso desse tipo de produto, como a cegueira temporária, forte ardência nos olhos, lacrimejamento intenso, coceira, vermelhidão,
inchaço ocular e dor de cabeça.
As pomadas ajudam a manter o penteado firme e são usadas, principalmente, para fazer tranças. Perto do Carnaval, as vendas aumentaram e os acidentes também. Em contato com o suor ou a chuva, o produto pode escorrer pelo rosto e provocar lesões na córnea. “A avaliação de risco feita pela Anvisa em conjunto com o Ministério da Saúde e vigilâncias sanitárias locais indica que, diante do número de ocorrências, distribuição geográfica e diversidade
de marcas envolvidas, a medida mais segura é interditar estes produtos até que todas as providências possíveis sejam adotadas para evitar novos eventos”, afirmou, em nota, a Anvisa.
A medida abrange todas as pomadas que estiverem no comércio brasileiro, independentemente de sua origem. Ou seja, vale tanto para as fabricadas no Brasil quanto para as importadas. “A interdição cautelar é uma medida preventiva e temporária para proteger a saúde da população e permanece vigente enquanto são realizados testes, provas, análises ou outras providências requeridas para a investigação e conclusão do caso”, diz o anúncio da Agência.
O oftalmologista André Borba salienta que as substâncias químicas presentes nas pomadas, ao entrarem em contato com a córnea, podem apresentar-se como substâncias corrosivas. “Elas fazem com que haja uma ceratite, que é a descamação do epitélio corneano, provocando grande dor, ardor, sensibilidade, fotofobia e lacrimejamento, a ponto de não conseguir abrir os olhos”.
Ele explica que, caso ocorra algum acidente, é importante lavar imediatamente os olhos e procurar o serviço de pronto-socorro. “A pomada tem uma consistência mais viscosa difícil de remover e se adere à superfície ocular. No hospital será feita a higienização da área, colocação de tampões para que haja a regeneração do epitélio corneano e aplicação de colírios lubrificantes”.
A trancista Priscila Guimarães conta que a prática de usar pomadas no Brasil é bem recente. “As tranças sempre foram feitas sem nenhum produto, mas nos Estados Unidos, a população negra, em especial, começou a usar finalizadores em seus penteados, até que chegou aqui. As pomadas são muito utilizadas porque deixam o cabelo mais consistente e fácil de modelar, diferente do gel que tende a ser muito úmido”.
Priscila sempre aconselha suas clientes a tomarem cuidado com os olhos e diz que nunca teve casos de acidentes. “O que eu sempre recomendo em relação ao uso de pomadas para penteado e trança é não usar o produto em excesso, tem que ser à base d’água, aprovadas pela Anvisa e seguir as recomendações dos fabricantes, além de quando for enxaguar,
deixar a cabeça inclinada para trás para não pegar nos olhos”.
A fotógrafa, Júlia Ferreira, conta que no ano passado, após pegar chuva com as tranças recentemente feitas, começou a sentir fortes dores nos olhos. “A pomada escorreu para o rosto e senti uma ardência e vermelhidão, mas fui para casa e lavei bastante a região. No outro dia, quando acordei, mal conseguia abrir os olhos e enxergava tudo esbranquiçado.
Fui para o hospital e o médico aplicou um analgésico e uma pomada oftalmológica, usei um tampão e fiquei alguns dias usando colírio. Por pouco não fiquei cega”.
O oftalmologista ressalta que, apesar da seriedade, na maioria dos casos não há cegueira permanente. “O que acontece é essa irritação que deve ser tratada para não evoluir para uma úlcera de córnea. A partir do momento do trauma, fazemos um tratamento à base de lubrificantes e pomada oftálmicas que vão promover a regeneração do epitélio corneano. Isso pode levar até 15 dias, dependendo do caso, além de também tratar a dor e a irritação”.