A inteligência artificial (IA) nada mais é que a capacidade das máquinas conseguirem executar tarefas como um ser humano. E o assunto se tornou mais presente nos últimos meses por conta do lançamento do robô ChatGPT, pela empresa americana OpenAI. O que espantou o mundo foi a sua habilidade de redigir redações elaboradas sobre vários temas e a capacidade de ser aprovado em testes muito difíceis, como para ser professor, médico e advogado. Para entender sobre o ChatGPT e o futuro da inteligência artificial, o Edição do Brasil conversou com o professor Wagner Meira Jr.
O ChatGPT pode ser considerado uma grande inovação?
É uma proposta que vem sendo construída há muitos anos, não só pela OpenAI, mas várias outras empresas estão na mesma direção. Esse desafio de ter uma ferramenta que crie textos, que construa alguma coisa próxima do raciocínio é uma coisa buscada há décadas. O ChatGPT alcançou uma fluência que realmente nunca tinha sido vista, uma articulação de frases, parágrafos e uma lógica de raciocínio amplo. O texto tem uma coesão que é surpreendente.
A gente poderia identificar algo como dois grandes componentes que contribuíram. O primeiro é um avanço dos métodos e técnicas, em particular para essa coesão mais ampla de gerar um texto, uma coisa mais complexa. Isso é o que me chama mais atenção, mas isso foi habilitado por uma disponibilidade de dados absurda, que na verdade é o grande combustível.
E segundo, uma capacidade de processamento. Ele possui uma mensagem de aviso que está usando dados de mais de um ano, ou seja, até 2021. Isso mostra, pelo menos nesse primeiro momento, que o custo para colocar no ar não é trivial.
A tecnologia ainda pode estar sujeita a cometer erros?
Sim, já tem vários memes na internet com erros do ChatGPT. É uma versão muito avançada do copiar e colar, mas não necessariamente ele compreende as coisas que está copiando e colando, por isso, temos que ter cuidado. Ele pode ter erros factuais e apresentar lacunas de raciocínio.
A inteligência artificial pode ajudar em uma tomada de decisão?
Existem decisões mais simples e as complicadas. Um exemplo simples são as compras de supermercado, que você vai dizer para um robô os ingredientes para fazer um almoço de domingo com carne e massa. Agora, um médico, acho
muito mais complicado. Existe um risco e quando o médico dá um diagnóstico leva em consideração uma quantidade de coisas imprevisíveis, ou seja, essa tomada de decisão é muito mais difícil.
A inteligência artificial pode substituir o ser humano em algumas atividades?
Algumas atividades podem ser 90% automatizadas e feitas por um robô. Um exemplo clássico é do chefe pedindo para a secretária enviar um e-mail para outra pessoa sobre determinado assunto. Ela anota os assuntos e envia. Pelo o que a gente já viu do ChatGPT, ele poderá executar essas tarefas tranquilamente.
A tendência é de que a inteligência artificial seja aprimorada ao longo dos anos?
Sim, já tinha muita gente trabalhando com a inteligência artificial. Isso era um segredo industrial. Vendo o sucesso do ChatGPT, o Google lançou o Brad para poder concorrer. Para as empresas que já estavam desenvolvendo alguma IA, a tendência é de que acabem lançando os produtos para disputar mercado.
Na educação, o ChatGPT traria mais benefícios ou prejuízos?
Vai depender de cada pessoa. Há uma discussão agora, após o lançamento do ChatGPT, se a pessoa precisa aprender a fazer uma programação de computação. Porque você fala com o robô para criar um programa, ele faz, um trabalho acadêmico, ele também faz.
Há pouco tempo, para fazer um trabalho, os alunos acessavam a internet, pegavam trechos de um material, copiavam e colavam. Hoje em dia, as crianças sabem que nem tudo que está na web é verdade. O que impressiona é a fluência do ChatGPT em trazer as informações, mas a ferramenta não questiona se o que ele está dizendo está certo ou não. Estamos em um momento que não podemos rejeitar a tecnologia e nem a abraçar demais.