O primeiro mês é dedicado à campanha Janeiro Branco, que visa conscientizar a sociedade sobre os cuidados com a saúde mental. No começo de cada ano os indivíduos costumam refletir sobre o passado, o presente e o futuro das suas vidas e relações. É justamente neste período de reavaliação pessoal que a iniciativa acontece. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicados em 2022, quase 1 bilhão de pessoas vivem com algum transtorno mental, situação que pode ter sido agravada pela pandemia de COVID-19, tabus e até mesmo falta de conhecimento do tema.
A psicóloga Ellen Oliveira ressalta que a campanha vem para jogar luz sobre os transtornos mentais. “É importante acabar com o tabu que envolve o assunto, estimular as conversas e a procura por ajuda e tratamento precoce sem nenhum tipo de vergonha, além de focar na inclusão social dos pacientes e mostrar que eles podem ter papéis importantes na sociedade”.
De acordo com dados da OMS, 322 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão. No Brasil, são mais de 11 milhões de casos, sendo o país da América Latina com maior prevalência da doença. “Para o cidadão com esse diagnóstico, os desafios profissionais e relações interpessoais se tornam ainda mais intensos e complicados. Não espere para buscar um acompanhamento psicológico apenas quando já está com algum nível de sofrimento”, diz a psicóloga.
Ellen explica que a maioria das pessoas se importam apenas com a saúde física, mas a mente também pode afetar o funcionamento do corpo. “Elas tendem a se cuidar quando adoecem ou sentem dores, porém, muitas dessas patologias são influenciadas por questões mentais, como doenças psicossomáticas, algumas de pele e transtornos gastrointestinais. É por isso que o lema do Janeiro Branco deste ano é ‘A vida pede equilíbrio’, pois devemos estar em paz com nosso corpo e mente para uma saúde eficaz”.
Para a profissional, com a crise sanitária que o mundo enfrentou, a saúde mental dos brasileiros piorou. “O isolamento alterou os padrões de comportamento da sociedade, devido ao fechamento de escolas, espaços de lazer e a mudança dos métodos e logística de trabalho. Isso minou o contato mais próximo entre as pessoas, algo tão importante para a saúde mental. As experiências traumáticas associadas à infeção ou à morte de entes queridos, o estresse induzido pela rotina modificada, o medo das consequências econômicas e a interrupção do tratamento podem ter intensificado os transtornos mentais”.
Vencendo a depressão
A auxiliar de loja Cristiane Salgado diz que desenvolveu depressão devido à perda do seu emprego na pandemia. “Com o comércio tendo que fechar as portas, o patrão demitiu boa parte dos funcionários e eu acabei sendo um deles. Me vi sem rumo, desesperada e só pensava nas consequências disso. Com o passar do tempo parece que fiquei cada vez mais entristecida e sem ânimo para nada. Se não fosse o apoio do meu marido e familiares não sei se teria conseguido melhorar”.
Hoje em dia, ela tem um novo emprego e está em tratamento adequado. “Comecei a trabalhar novamente no ano passado, o que me deu forças para continuar. Estou fazendo sessões de terapia e usando medicamento antidepressivo. Ver meu filho e minha família feliz com meus avanços também me motiva bastante. Digo para todos cuidarem de sua saúde mental, pois é algo muito importante”, alerta.
Ellen reforça que alguns comportamentos são benéficos para cuidar da saúde mental e melhorar a qualidade de vida. “Procure se desconectar de aparelhos eletrônicos e use esse espaço para ler um livro, meditar, praticar exercício físico, fazer caminhada ou alguma atividade de sua preferência. Tenha momentos do dia voltados para quem você gosta, converse com pessoas que fazem você se sentir bem e mantenha vínculos saudáveis”.
A psicóloga acrescenta ainda a questão da higiene do sono. “Busque dormir e acordar sempre no mesmo horário todos os dias e evite o uso de telas pelo menos 30 minutos antes de se deitar”, finaliza.