Ter acesso a crédito é uma das vantagens para quem deseja fazer a aquisição de um produto ou serviço a prazo. No entanto, a forma de pagamento deve ser usada com cautela e planejamento para não trazer consequências graves ao orçamento familiar. Segundo levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), quase a metade (47%) dos consumidores brasileiros não fazem o devido controle das compras parceladas.
Esse percentual se divide entre os que fazem o controle na própria fatura do cartão de crédito (34%), de cabeça (9%) ou admitem não o fazer (3%). A pesquisa apontou ainda que 32% dos entrevistados ficaram inadimplentes nos últimos 12 meses por causa de aquisições a prazo, sendo que 17% citam o cartão de crédito como a principal dívida não paga e 7%, os empréstimos. Na avaliação dos consumidores, os motivos que mais dificultam o pagamento de compras parceladas estão a queda da renda (16%), o desemprego (15%) e manter um mínimo para o próprio sustento (13%).
O economista Alex Santos afirma que muitos fazem várias aquisições a prazo com preços pequenos. “Mas é importante lembrar que, ao juntar todas as contas no final do mês, isso pode se transformar em uma dívida alta. E, quando os gastos não são anotados e nem planejados, as pessoas podem encontrar dificuldades em pagar. Ao não honrar com os compromissos financeiros assumidos, os juros, principalmente do cartão de crédito, são altos e acabam fazendo o valor da fatura aumentar rapidamente. Com o descontrole, os consumidores têm seus nomes incluídos nos cadastros de inadimplência e ficam impedidos de realizar novas compras”, alerta.
Ainda de acordo com ele, o crédito é uma facilidade que alavanca a economia e deve ser usado com consciência. “As pessoas têm dúvida sobre até quanto podem comprometer do orçamento financeiro com gastos em compras parceladas. Vale salientar que não é porque o banco concedeu limite alto que o valor deve ser todo utilizado. O comprometimento da renda bruta mensal em compras no crédito não pode ultrapassar 30%. Isso significa que se você recebe R$ 1 mil, poderá gastar até R$ 300. Porém, essa porcentagem deve ser reduzida quanto mais contas fixas você tiver para pagar”.
Ele completa dizendo que os consumidores dão preferência ao pagamento à vista para as compras recorrentes e a preços menores. “São coisas de mercado, aplicativos de transporte e alimentação. Já as aquisições parceladas são aquelas de maior valor, como equipamentos eletrônicos, roupas, entre outras”, finaliza.
Sem controle
A auxiliar de escritório Vanessa Barros tem o hábito de parcelar as suas compras sempre que possível. “Em toda loja pergunto em quantas vezes é possível dividir o valor e opto pelo máximo permitido pelo estabelecimento. O problema é que não tenho muito controle e faço diversas aquisições no cartão, mesmo que com preços baixos. São coisas como restaurantes, salão de beleza, roupas, perfumes e calçados. Quando recebo a fatura, percebo que estou extrapolando nos gastos”.
Ela revela que já ficou devendo por não conseguir quitar todo o valor da conta. “Tenho consciência que consumi mais do que ganho. Um mês precisei saldar somente o mínimo da fatura e no outro os juros vieram. Atrasei o pagamento seguinte e o valor da dívida foi só crescendo. Tive que recorrer a empréstimo com taxas mais modestas antes que virasse uma bola de neve”.
Crédito fácil
Ainda segundo o estudo, 62% dos consumidores cederam à tentação e levaram para casa algum item não planejado devido à facilidade do parcelamento das aquisições. Pouco mais da metade (53%) citou o e-commerce como um tipo de ambiente que estimula a compra não programada. Em seguida aparecem lojas de departamento (42%), shoppings (34%), roupas, sapatos e acessórios (33%), supermercados (29%) e móveis (24%).
O quanto será pago de juros é o principal critério levado em consideração no momento da decisão sobre a contratação de uma modalidade de crédito, seja empréstimo, financiamento, cheque especial ou rotativo do cartão (49%). Seguido pelo valor de todas as tarifas cobradas (43%) e do conhecimento do orçamento para saber se conseguirá pagar as parcelas mensalmente (40%).
Apesar da grande oferta de crédito, a maioria dos consumidores (62%) afirma evitar essa modalidade de pagamento. Entre os motivos destacam-se o medo de se desorganizar com a quitação das parcelas e extrapolar o orçamento (49%), o fato de já ter muitos compromissos para pagar (46%) e as dívidas em atraso (19%).