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Aumento de 10,04% no salário mínimo em 2022 seguirá defasado

Se confirmada a projeção de inflação prevista pelo governo para 2021, reajuste será o maior desde 2016 | Foto: Divulgação

O governo federal ainda não definiu o novo valor do salário mínimo a vigorar a partir de janeiro de 2022. Conforme projeção do Ministério da Economia, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizado como base para calcular o percentual de aumento da remuneração, deve fechar o ano em 10,04%. Ainda faltam os dados da inflação de dezembro, mas a tendência é que se mantenha em alta. Caso o cenário se confirme, a quantia paga pode subir de R$ 1.100 para R$ 1.210, sendo o maior reajuste dos últimos 6 anos.

Até 2019, a fórmula utilizada para correção do salário mínimo utilizava como base o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país, mais o INPC, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde 2020, o cálculo mudou e passou a considerar apenas o INPC como referência. A equipe econômica já informou que cada R$ 1 a mais no salário significa cerca de R$ 355 milhões de custo do orçamento público.

Na avalição da economista Adriana Campos, o aumento está apenas cumprindo o que é estabelecido pela Constituição Federal. “O reajuste acompanha a inflação acumulada do INPC com o objetivo de manter o poder de compra do consumidor, mas sem qualquer ganho real. Esse valor é considerado irrisório, frente às previsões econômicas negativas para o próximo ano”.

Ela salienta para uma questão importante a ser considerada. “Sem aumento real na quantia paga, uma grande defasagem está se acumulando ao longo dos anos. Isso trará dificuldades cada vez maiores, principalmente, para as famílias que ganham até um salário. Estudos mostram que mais de 30 milhões de pessoas sobrevivem nestas condições, sendo um recorde histórico de pobreza”.

O governo também elevou a projeção oficial do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país. A expectativa é fechar o ano em 9,7%. Na edição anterior do documento, publicado em setembro, a previsão era de 7,9%. Se confirmado, o valor supera o teto da meta de 3,75% estipulada para este ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual deixa uma margem para que o IPCA varie entre 2,25% e 5,25%.

De acordo com o economista e especialista em finanças Aloísio Santos, estamos vivendo um período no qual a disparada da inflação tem sido contínua. “O governo federal não vem realizando ações efetivas para abrandar tal impacto. O Banco Central tem elevado a taxa Selic para conter a alta dos preços, mas é apenas uma medida paliativa e que não resolve o problema efetivamente”.

Uma pesquisa do IBGE com 377 produtos e serviços revelou que cerca de 60% dos itens têm aumentado todos os meses. “Atualmente, a cesta básica compromete quase a metade do valor do mínimo, enquanto em 2017 era em torno de 37% dele. Além dos alimentos, gasolina e energia elétrica que também afetam o bolso das famílias”, comenta.

Ainda segundo Santos, o mercado estará ainda mais instável em 2022 por conta de ser um ano eleitoral. “O dólar deve subir e ficar perto dos R$ 6 novamente devido ao maior risco fiscal e o investimento estrangeiro no Brasil fica cada vez menor. Sendo assim, o desemprego aumenta e a arrecadação cai. Isso é bastante preocupante”, finaliza.