Segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,1%, sendo a maioria homens. Quem mantém o vício conhece bem os problemas e as graves consequências, sendo responsável por desencadear dezenas de doenças respiratórias, cardiovasculares ou até cânceres. E, mesmo com todos os riscos, muitas pessoas não abandonam o tabaco ou demoram a procurar ajuda. Afinal de contas, por que é tão difícil parar de fumar?
Para o pneumologista Ronaldo Filgueira, a resposta é simples e está nos elementos usados na fabricação do cigarro. “Ele tem substâncias químicas que causam dependência. A principal delas é a nicotina, que quando entra em contato com o cérebro, causa relaxamento e prazer por alguns minutos. Mas são apenas falsas sensações”, explica.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Para um Mundo Livre de Fumo mostrou que 72% dos brasileiros já tentaram abandonar o cigarro e não tiveram sucesso. “Eles tendem a ficar nervosos, ansiosos, ter alguma alteração no sono e dificuldade de concentração sem a nicotina. É como se fosse um artifício para lidar com os momentos de tensão e estresse. E, assim, nunca conseguem colocar um ponto final no ciclo”.
O pneumologista diz que para conseguir parar tem que ter força de vontade. “Podem surgir dificuldades na primeira semana, mas o primeiro passo tem que ser dado. Essa decisão não pode ser tomada por impulso, porque aumenta as chances de não dar certo. A sugestão para motivar é escolher alguma data especial. Também é comum o paciente fazer várias tentativas até conseguir definitivamente, mas cada uma traz um aprendizado diferente”.
Filgueira salienta que os usuários já conhecem as consequências do vício. “Além dos problemas de saúde, fumar causa envelhecimento precoce, deixa os dentes e a ponta dos dedos amarelados, mau hálito e cheiro forte nas roupas. Ninguém gosta de ficar perto de uma pessoa assim. Esse é mais um alerta que pode incentivar a largar o tabaco”, afirma.
Para quem não consegue parar por conta própria e precisa de auxílio, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito em mais de 600 municípios de Minas Gerais, por meio do Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Para saber quais Unidades Básicas de Saúde (UBS) possuem o serviço, basta acessar o site www.saude.mg.gov.br/tabagismo ou ligar no telefone 136. A página também contém informações sobre os malefícios do cigarro e materiais de apoio para uma vida mais saudável.
Foi pensando nos problemas de saúde que vinha enfrentando, devido ao uso do cigarro, que a auxiliar de escritório Ameliane Souza decidiu dar um basta no vício. “Vai completar 5 anos que parei de fumar. Me sinto mais disposta para fazer atividade física, coisa que antes me deixava sempre cansada ou com falta de ar. Aquele cheiro de cigarro impregnado nas roupas e no quarto também não existe mais”, relembra.
Ela conta que começou a fumar quando tinha 19 anos. “Achava bonito, sem falar na sensação boa que me dava. A família, principalmente minha mãe, sempre me alertou dos perigos. Fumei quase 20 anos, chegando a quase dois maços por dia. Ao longo desse tempo tentei largar a dependência três vezes, mas o máximo que consegui ficar sem o cigarro foram 3 dias”.
A quarta tentativa foi a que finalmente livrou Ameliane do tabagismo. “Os sintomas de abstinência são horríveis e dá uma vontade desesperadora de fumar. Fui resistente e logo tudo passou. Quando sentia vontade, tomava um pouco de café ou ligava para alguém. Não precisei de nenhum tipo de medicamento”, conclui.