Dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no dia 5 de outubro, mostra que a produção industrial caiu 0,6% na passagem de julho para agosto, eliminando o avanço, do mesmo percentual, que havia sido registrado no mês anterior.
Ainda de acordo com a análise, o setor se encontra 1,5% aquém do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 17,9% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011. Na comparação com agosto de 2021, houve crescimento de 2,8%. No ano, a indústria acumula queda de 1,3% e, em 12 meses, de 2,7%.
Apesar disso, o gerente de pesquisa do IBGE, André Macedo, explica que a produção industrial mostrou melhora no seu ritmo ao longo de 2022, pois apresentou resultados positivos em 5 dos 8 meses do ano. “Em agosto voltou a marcar queda na produção, mas com a característica de ser um recuo concentrado em poucas atividades, uma vez que somente oito das 26 apontaram taxas negativas”.
Já o economista e especialista em finanças públicas, Gustavo Aguiar, comenta que o ramo, desde o ano passado, está inconstante, um mês tem uma melhora e no outro não. “Os fatores que estão impactando nesse resultado de agosto são os aumentos consecutivos da taxa básica de juros, pois não há uma política adotada pelo Banco Central (BC) para conter a inflação; também tem a questão do Auxílio Brasil, que impulsionou a demanda no início do ano, porém, agora já não influencia tanto na produção industrial; e tem a retração da economia mundial, que interfere nas exportações e na queda dos preços das commodities”.
O setor de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis, apresentou queda de 4,2% e foi a maior influência negativa para o resultado do mês frente ao anterior, que voltou a recuar após crescer 1,8%. Aguiar esclarece que a redução do ritmo da economia global impactou nesse resultado. “A retração da economia, sobretudo na demanda de commodities, a partir de maio e junho, fez ter uma queda nos preços e isso afetou a produção dessa indústria”.
Outras contribuições negativas vieram dos segmentos de produtos alimentícios (-2,6%), interrompendo 3 meses seguidos de alta, período em que acumulou crescimento de 6%, e indústrias extrativas (-3,6%), que elimina assim parte do avanço de 4,6% acumulado em junho e julho.
Segundo o economista, os resultados dessa pesquisa não impactam nos custos da produção industrial. “Porém, temos que ficar atentos a alguns indicadores e políticas econômicas do governo e do BC. Por exemplo, a taxa básica de juros, é importante observar se ela vai estabilizar com a economia, convergindo para a meta da inflação, ou se vai continuar com o aumento. Outra questão é a redução dos impostos sobre serviços e combustíveis, por quanto tempo essa política permanecerá e até quando ela vai segurar alguns preços, que têm grande influência nos custos da produção industrial”.
Ele ainda acrescenta que o recuo nas atividades afeta duramente a vida do brasileiro, sobretudo na questão da geração dos empregos formais de maior qualidade. “A indústria é muito importante na geração de trabalho, uma vez que nossa economia continua fortemente concentrada na agropecuária, que tem avançado cada vez mais na tecnologia, mas tem gerado menos emprego e de menor qualidade”.
Atividades em expansão
Dentre as 18 atividades que tiveram resultado positivo em agosto, as que mais se destacaram foram veículos automotores, reboques e carrocerias (10,8%), máquinas e equipamentos (12,4%) e outros produtos químicos (9,4%). Aguiar afirma que esse destaque tem a ver com a melhora dos estoques, matérias-primas e insumos. “A gente viu, sobretudo no período da pandemia em 2020, uma dificuldade na reposição dos estoques, o que acabou gerando uma demanda reprimida. Agora, com a melhora desses itens, a queda dos custos nos combustíveis e na energia tem feito com que o setor acelere sua produção e cumpra essa procura contida”.
Categorias econômicas
As quatro grandes categorias econômicas tiveram resultados opostos na passagem dos meses de julho para agosto. Duas voltaram a crescer, enquanto duas tiveram quedas.
Bens de consumo semi e não duráveis (-1,4%) e bens intermediários (-1,4%) apresentaram taxas negativas, com ambas eliminando parte dos avanços do mês anterior: 1,5% e 1,8%, respectivamente. Por outro lado, houve altas nos setores de bens de consumo duráveis (6,1%) e de bens de capital (5,2%), com o primeiro voltando a crescer após recuar 6,7% em julho e o segundo interrompendo dois meses consecutivos de queda, período em que acumulou perda de 5,2%.