Sensação de queimação no peito, azia, indigestão e tosse seca após as refeições. Quem sofre de refluxo conhece bem esses sintomas. De acordo com estimativa da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), 30% dos adultos são acometidos pela doença, correspondendo a cerca de 50 milhões de brasileiros. O problema tem tratamento, que pode ser por meio de medicamentos, mudança de hábitos alimentares ruins e, em alguns casos, a cirurgia é indicada.
Segundo explica Antônio Márcio, gastroenterologista e hepatologista do Hospital Felício Rocho, o refluxo pode ocorrer vez ou outra e ser considerado normal, como depois de comer uma feijoada e ir deitar logo em seguida. “Vira uma doença quando o problema é crônico e atrapalha a qualidade de vida da pessoa. Ela acontece quando o ácido do estômago volta pelo esôfago, causando irritação nessa mucosa que não é preparada para receber esse líquido”.
Ele acrescenta que sempre que comemos alguma coisa, o esôfago é o responsável por transportar o alimento até o estômago. “No final dele há um músculo chamado de esfíncter esofágico, que funciona como uma porta que controla a abertura e o fechamento do órgão. Quem sofre de refluxo enfrenta um problema nessa válvula e o suco ácido acaba atingindo a parede do esôfago”.
Entre os fatores que podem causar o desenvolvimento da doença, Antônio Márcio cita maus hábitos alimentares, especialmente pessoas que ingerem alimentos gordurosos e mais pesados no período da noite. “Além disso, os obesos e os consumidores de álcool e fumo também estão sujeitos a sofrer com o refluxo. Outro risco é para quem tem hérnia de hiato, uma alteração na anatomia do estômago e que prejudica o funcionamento da válvula do esôfago”.
O diagnóstico é feito por um especialista da área. “Normalmente, apenas pelos sintomas já é possível identificar a doença. Ela causa sensação de queimação ou dor no peito, arrotos, indigestão, tosse seca, laringite, até mesmo crises de asma e problemas respiratórios. Mas é importante realizar a endoscopia e a pHmetria para observar o nível de acidez do estômago e a deficiência do esfíncter”, esclarece.
Tratamento
A mudança de hábito é o primeiro passo para combater o problema, explica o médico. “O controle do refluxo passa, primeiramente, pela consciência do próprio paciente. É importante rever a alimentação e consumir produtos mais leves. Já o procedimento medicamentoso consiste em usar fármacos que diminuem rapidamente o pH do suco gástrico, ao mesmo tempo em que reduz sua quantidade no estômago”.
De acordo com Antônio Márcio, a cirurgia pode ter indicação nos casos em que as mudanças no estilo de vida e o uso de medicamentos não tiveram o resultado esperado. “Também nos quadros graves que já apresentam complicações. O procedimento visa estreitar o esfíncter esofágico inferior para controle do refluxo”, finaliza.
Alimentação
Alguns cuidados podem auxiliar na melhora dos sintomas de quem tem refluxo. Segundo a nutricionista Ana Paula Gomes, o ideal é adotar uma dieta balanceada. “Evite comidas ricas em gorduras e açúcares, como as frituras, embutidos e doces. Eles dificultam a digestão e ficam mais tempo no estômago. Já a cafeína atrapalha a contração dos esfíncteres e favorece o refluxo. Alimentos fermentados também não devem ser consumidos, pois irritam a mucosa gastrointestinal”.
Ela fala sobre alguns hábitos que são benéficos. “Coma pequenas porções de 3 em 3 horas, mastigue bem, evite a ingestão de líquidos durante as refeições, assim como ir deitar logo após se alimentar. Espere pelo menos 2 horas e eleve a cabeceira da cama de 15 a 20 cm para facilitar o esvaziamento gástrico. Por último, aumente o consumo de vegetais, frutas e carnes brancas”.