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43% dos brasileiros alegam que estão com sobrecarga de trabalho

Precisar estar disponível o tempo todo, falta de reconhecimento e empatia por parte das lideranças são os principais motivos | Foto: Reprodução/Internet

Dados de uma pesquisa mostram que 43% dos trabalhadores estão com sobrecarga de trabalho. O levantamento realizado por Paul Ferreira, professor de Estratégica e Liderança e vice-diretor do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas (NEOP) na Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), em parceria com as empresas Talenses e Gympass, também revelou que 31% dos entrevistados sofrem pressão por resultados e metas.

Outros impactos negativos para a saúde mental dos colaboradores foram apontados na pesquisa: sentir que precisa estar disponível o tempo todo (30%); falta de reconhecimento (30%); de empatia/apoio da liderança direta (27%); dificuldade de ter desempenho em sua plena capacidade de trabalho (22%); deficiência de comunicação com a liderança direta (17%); ter que lidar com as responsabilidades do cuidado com a casa durante a pandemia (15%); e ausência de flexibilidade na jornada de trabalho (12%).

Ainda afetam a rotina dos trabalhadores aspectos como: desconforto em compartilhar seus desafios com colegas da equipe ou com a liderança (12%); distanciamento físico dos colegas (11%); sentir que seu desempenho esteja sendo julgado por conta de outras responsabilidades necessárias durante a pandemia (11%); e, por fim, falta de iniciativas de saúde mental (9%).

A consultora de carreira Renata Lemos explica que a pandemia trouxe muitas mudanças ao mercado. “Rotinas diferentes e home office foram algumas das situações que ocasionaram um impacto negativo à saúde mental dos colaboradores. Migramos para um novo modelo de trabalho sem nos prepararmos para isso. Tanto empresas como profissionais foram obrigados a se adaptar. Desta forma, a pressão por resultados, a disponibilidade para trabalho a qualquer tempo e a falta de apoio e preparo das lideranças para esse novo cenário contribuem para que essa sobrecarga seja ainda maior”.

A psicóloga comportamental Katiuscia Nunes elucida que o trabalho ocupa um lugar de centralidade para o indivíduo, acarretando impactos importantes na vida psíquica e social. “Pensando em condições de sobrecarga de trabalho, podemos apontar quadros de estresse, tensão, cansaço, irritabilidade, comprometimento nas relações sociais, além de desgaste físico e emocional. A sobrecarga pode, inclusive, levar ao adoecimento mental, como a síndrome de Burnout, quando é constatado o esgotamento do profissional”.

Ela acrescenta que antes de pensarmos em como os trabalhadores podem prevenir quadros de adoecimento, é preciso que as empresas e lideranças pensem e considerem a importância da saúde mental no contexto laboral. “As instituições podem desenvolver medidas coletivas de cuidado à saúde, oferecer atividades de descompressão durante a jornada de trabalho e como já temos visto, principalmente durante a pandemia, disponibilizar momentos de acolhimento e suporte junto a um psicólogo. É fundamental que as empresas e instituições desenvolvam atitudes de valorização, respeito, reconhecimento e apoio ao trabalhador”.

Esse foi o estilo de empresa que a contadora Virgínia Matos buscou após ter síndrome de Burnout no seu antigo trabalho. “Eram muitos clientes e pouca equipe no escritório. Metas e demandas impossíveis de serem realizadas. Fiquei muito estressada, meu corpo todo doía, constantemente tinha crises de pânico, até chegar ao esgotamento. Pedi demissão e, agora, estou em sociedade com um escritório menor, com menos clientes e horários mais flexíveis”.

A advogada Cristiane Ono esclarece que a sobrecarga se caracteriza por uma delegação desmedida de serviço aos empregados, ensejando pressão e cobrança extrema. “Pode se revelar de diversas formas, a exemplo de jornadas muito longas, horas extras rotineiras, imposição de metas altíssimas, número excessivo de demandas e prazos de entrega exageradamente curtos”.

Ela adiciona que a imposição de jornada de trabalho excessiva se comprova, principalmente, por meio da apresentação dos cartões de ponto, cujo registro é obrigatório às empresas que tenham mais de 20 trabalhadores submetidos ao regime celetista. “Também, pode ser demonstrada com pedidos de demandas fora do horário e ambiente de trabalho, por exemplo, finais de semana, feriados, viagens, férias, etc. Os outros casos podem ser evidenciados por intermédio de comunicações trocadas via e-mails e aplicativos de mensagens, áudios, fotos ou gravações em vídeo, sendo altamente recomendado que os fatos sejam registrados em ata notarial dotada de fé pública”.

Cristiane afirma que, em muitos casos, o primeiro ímpeto do colaborador que se sente sobrecarregado é ignorar ou esconder o fato por medo de parecer aquém das tarefas ou até perder o emprego. “Deste modo, ele passa a trabalhar ainda mais, a fim de fazer caber o volume de serviço em sua jornada, piorando a exaustão. Pequenas atitudes podem auxiliar o trabalhador a trazer mais leveza à jornada, como manter diálogo acessível com seus superiores, fazer pausas curtas ao longo do dia e deixar o celular fora de alcance durante os intervalos para refeições”.

No entanto, ela ressalta que o ônus de preservar um ambiente de trabalho saudável incumbe ao empregador, que deve manter a empresa organizada. “Isso inclui um número adequado de profissionais para suprir as demandas e projetos em prazo razoável, estipular metas tangíveis e racionais, promover treinamentos de líderes e trabalhadores, definir as prioridades, criar cronogramas e planejamentos, abster-se de delegar tarefas incompatíveis com o cargo exercido, respeitar os horários de descanso, abrir espaço para feedbacks, além de permanecer vigilante aos funcionários e no seu desenvolvimento pessoal e profissional”.